domingo, 29 de julho de 2012

Festival Amar Amado


Sai a programação completa do Festival que comemora, em Ilhéus, o centenário de Jorge Amado

Uma vasta programação vai marcar o centenário de Jorge Amado neste ano de 2012. O ápice será o Festival Amar Amado, que acontece em Ilhéus, de 04 a 12 de agosto, e conta com atividades nas áreas do teatro, música, dança, literatura, cinema, gastronomia, artes plásticas e visuais. Entre as principais atrações estão a Feira Literária de Ilhéus e os shows de Caetano Veloso, Moraes Moreira, Família Caymmi e Margareth Menezes.

Visite o site CLICANDO AQUI e confira.

sábado, 28 de julho de 2012

Itabuna - 102 anos e dois poemas caprichados


       ITABUNA, 1950 
       (Bar, Jazz, Bogart)

Tinha tempo bastante a desfrutar.
K. Kaváfis

Baco adora quando desço a praça
Adami, caminho do Elite Bar.
Lá (no bar de Emetério), busco o morno
canto, próximo às mesas da sinuca;
observo os jogadores do apostado,
os ases das tacadas. O maior,
Zito Maleiro, já tuberculoso,
captura a solidão da bola sete;
o infinito resvala sobre o verde
espaço de luz acabando o jogo.

No ambiente etéreo, Raleu, um Gable
de cabaré no rosto juvenil,
confere ares de sonho ao botequim.
O garçom vem. Peço um vinho do Porto.
Ali, flagro o soluço do gargalo,
o intumescimento da taça e o rubro
trincolejar do vidro satisfeito.

As vitrinas do balcão, as prateleiras
alojando garrafas de bebidas.
A roda de gamão; o espelho e o rádio
Philips. Na sequência das notícias,
um julgado de saxes e trompete:
Duke Ellington, atacando “Perdido”,
acende um risco de néon na noite.
Sorvo o vinho do Porto, calmamente.
Atento o ouvido para o andar de cima,
ouço o ruído abafado da roleta
na sensação das coisas clandestinas.
Chegaram os amigos. Planejamos
o que faremos do frescor da noite.
Saímos. Vamos pela Rua da Lama,
em direção à Zona, ao Bar de Juca.
Lá ficamos até de madrugada.

Por que pensar na ciência dos abismos,
se temos muito tempo pela frente?
Antes fazemos hora, indo ao cinema.
Subimos a praça. Nunca perdemos
em nossa idade um filme de Bogart.

Florisvaldo Mattos



       Itabuna 102...

Minha cidade foi a minha Alexandria
Terreno fértil que gerou verso e cacau,
Um fruto mágico de eterna fantasia,
Todo poeta do seu solo fez quintal...

Cidade simples de onde a vida se irradia
Feito semente de beleza natural,
Meu sangue guarda seu sabor de poesia,
Terra sem fim que luta sempre contra o mal...

Minha cidade, pedra preta da fortuna,
Celebra o nome do seu povo de valor,
Também carrega o peso ingrato do terror
De uma política contrária ao grapiúna...

- Neste lugar contradições geram o amor
Que mantém viva toda a gente de Itabuna!

Piligra

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Edital

Affonso Romano de SantAnna

Por este instrumento faço saber
que é verdade
o que de mim dizem.
É verdade o que alardeiam os inimigos
e os amigos enfatizam.
Sou tudo o que me pespegam.
Quando me acanalham, é verdade,
e é verdade
-quando me embalam.

Jovem, indignado,
tentei com engenho e arte
separar do trigo
a outra parte.
Jã não consigo. Renegar o joio
é ter o trigo empobrecido.

Quando me atiram pedras, é justo.
Quando me atiram estrelas, quem sabe?
Não vou de mim, de vós, viver a contrapelo.
Sou como Ulisses
na ida e no regresso:
-a soma dos descaminhos
a contradição em progresso.

(in “Poesia Reunida” L&PM-vol.2 p, 136)

sábado, 21 de julho de 2012

Ocaso em Belmonte


Para Afrânio Mattos[1]


Boa noite a tudo que é noite,
o sol já se pôs em Belmonte
e vai longe o ocaso amarelo
- ardente e louro, triunfante -

das margens do Jequitinhonha,
onde a gente persiste e sonha,

onde a gente canta o silêncio
tremendo que em tudo resiste,
que em tudo se faz tão imenso:

ardente e louro, triunfante,
o sol já se pôs em Belmonte.


[1] Figura referêncial da cultura de Belmonte (BA), terra do mar e do poeta Sosígenes Costa.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Primeiras notícias sobre meu próximo livro


Vejam que beleza a capa do meu próximo livro. A fotografia é de Jamison Pedra e foi escolhida por dialogar bem com certo aspecto de solitude que retrata o homem fragmentado, objetivo maior de Procura e Outros Poemas, sobre o qual o poeta Ângelo Monteiro, de Pernambuco, disse o seguinte: "Gustavo Felicíssimo se tornou um verdadeiro continuador da Retranca, esta forma estrófica que, inventada por Alberto da Cunha Melo, constituiu a matéria prima de, pelo menos, duas de suas obras fundamentais — Meditação sob os lajedos e Yacala — e que ganhou no autor de Procura e Outros Poemas um componente lúdico e graciosamente aleatório que veio dar ao seu livro uma nota pessoal à fórmula albertiana".
         O lançamento acontecerá na Feira do Livro de Ilhéus, dia 10 de Agosto.

O triunfo do amarelo


Sosígenes Costa

Luta o amarelo contra o verde, agora,
no esforço de vencê-lo e confundi-lo.
E assim derrama, esdrúxulo, na flora
sépia, topázio, abóbora, berilo.

Transforma o bronze e anula o jade: e aquilo
que é verde-negro, aurífero, colora.
No esforço de vencê-lo e confundi-lo
luta o amarelo contra o verde agora.

Aves azuis se pintam chinesmente
de jalde. E a própria flor da rubra amora
toda se pinta de âmbar louro, ardente.

E a luz do sol, sinfônica e sonora,
dos céus rolando, em mágica torrente,
a gama inteira do amarelo explora.

Trata-se de um poema datado de 1928. Em: Melhores poemas de Sosígenes Costa. Org. Aleilton Fonseca, p. 49.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Melhores poemas de Sosígenes Costa será lançado hoje, sábado, 14, na cidade natal do poeta


No próximo sábado, dia 14 de julho, haverá o lançamento do livro MELHORES POEMAS DE SOSÍGENES COSTA. Organizado por Aleilton Fonseca, o volume acaba de sair pela editora Global, de São Paulo, em edição nacional, na Coleção Melhores Poemas, com direção da escritora Edla van Stein. Além de organizar a coletânea, Fonseca também fez o estudo crítico introdutório sobre a obra lírica do poeta Baiano.
Sosígenes Costa nasceu em Belmonte, em 14 de novembro de 1902, viveu muitos anos em Ilhéus, e depois no Rio de Janeiro, onde faleceu, em 5 de novembro de 1968. Deixou apenas um livro publicado Obra poética (1959), que recebeu o primeiro Prêmio Jabuti de poesia, em 1960.
O poeta foi redescoberto no final da década de 70, através de um ensaio Pavão parlenda paraíso, de José Paulo Paes, da reedição do seu livro de estreia, ampliado e organizado por Paes, e da edição do longo poema narrativo Iararana (1979). No final dos anos 90, sua obra voltou à tona, graças a um ensaio original de Gerana Damulakis, Sosígenes Costa - o poeta grego da Bahia (1996). Em 2002, o centenário do poeta foi comemorado na ALB, através de um seminário promovido pela revista Iararana, então editada por Carlos Ribeiro e Aleilton Fonseca. Em seguida, a publicação da revista Iararana (14 números), a Poesia completa (Conselho de Cultura da Bahia), a coletânea crítica A Sosígenes com afeto (Org. Hélio Pólvora) e Travessia de oásis. A sensualidade da poesia de Sosígenes Costa (Florisvaldo Mattos) consolidaram o nome do autor, chamando a atenção para sua obra. Surgiram então artigos,e studos e ensaios sobre a obra do poeta dos pavões e das paisagens atlânticas. Em 2007, a pesquiadora carioca Jane Malafaia defendeu uma dissertação de mestrado (O modernismo singular de Sosígenes Costa) na Universidade Federal Fluminense, e em setembro próximo defende tese de doutorado (a primeira sobre o poeta) na mesma UFF, sobre os torneios das metáforas na poesia de Sosígenes Costa.
O livro MELHORES POEMAS DE SOSÍGENES COSTA insere o poeta belmontense numa seleta coleção da melhor poesia brasileira de todos os tempos, fazendo jus ao seu valor estético, temático e cultural. Estarei lá para conferir.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

CD reúne poemas lidos por Ferreira Gullar


O CD Poemas de Gullar por Gullar reúne 29 textos selecionados e lidos pelo próprio autor, foi lançado nesta terça-feira, 3, pelo selo Luz da Cidade – fundado pelo compositor Paulinho Lima – e apresentação de Antonio Cicero. Boa parte dos poemas selecionados foi retirada do livro Em alguma parte alguma (José Olymoio, 2010) que, sem dúvida, é um dos pontos altos da obra do poeta.
Trata-se de uma iniciativa formidável dessa empresa que já fez o mesmo com a obra de cerca de 40 dos nossos principais escritores. 
Para aquisição acesse o site da produtora AQUI.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Uma imagem para a história


        Revisitando o site PLATAFORMA PARA A POESIA, todo reformulado, e com um conteúdo pra lá de formidável, encontro essa fotografia – tirada por Cláudia Cordeiro – que é o flagrante e testemunho excepcional de um instante, onde se encontram nada menos que dois dos maiores poetas da história recente do Brasil: Alberto da Cunha Melo e Bruno Tolentino. Ambos fazem parte da minha formação de poeta e leitor. Alberto, pela maneira ao mesmo tempo simples e sofisticada de tratar alguns dos temas basilares da nossa existência. Bruno, pela sua cultura e coragem com que enfrentou o debate sobre a literatura no Brasil. Abaixo, um poema de cada um desses gênios.

CASA VAZIA
Alberto da Cunha Melo

Poema nenhum, nunca mais
será um acontecimento:
escrevemos cada vez mais
para um mundo cada vez menos,

para esse público de ermos,
composto apenas de nós mesmos,

uns joões batistas a pregar
para as dobras de suas túnicas,
seu deserto particular;

ou cães latindo, noite e dia,
dentro de uma casa vazia.


Nihil Obstat
Bruno Tolentino

É preciso que a música aparente
no vaso harmonizado pelo oleiro
seja perfeitamente consistente
com o gesto interior, seu companheiro

e fazedor. O vaso encerra o cheiro
e os ritmos da terra e da semente
porque antes de ser forma foi primeiro
humildade de barro paciente.

Deus, que concebe o cântaro e o separa
da argila lentamente, foi fazendo
do meu aprendizado o Seu compêndio

de opacidades cada vez mais claras,
e com silêncios sempre mais esplêndidos
foi limando, aguçando o que escutara.