domingo, 29 de abril de 2012

Um poema para o 1º de maio


          Ascenso Ferreira é um dos poucos poetas que conseguiu imprimir à sua obra, não raro, efeitos novos, originais, imprevistos, sempre com humor e sátira, como o poema “Filosofia”, publicado abaixo, que é uma delícia, e ao meu ver bem pode ser encarado como uma troça ao Dia Mundial do Trabalho. Embora exista quem não goste, há quem o tenha venerado, como o Manuel Bandeira que o publicou em sua famosa “Antologia dos poetas brasileiros: fase moderna” (Nova Fronteira. 1996). Do poeta dizem que começou a atividade literária enganado, compondo sonetos, baladas e madrigais. Depois de 22 tomou rumos novos e achou um caminho que o conduziria a uma situação de relevo nas letras pernambucanas e nacionais.

Filosofia

Ascenso Ferreira

(A José Pereira de Araújo -
"Doutorzinho de Escada").


Hora de comer — comer!

Hora de dormir — dormir!

Hora de vadiar — vadiar!

Hora de trabalhar?

— Pernas pro ar que ninguém é de ferro!


Publicado em "Catimbó e Outros Poemas", Editora José Olympio - Rio de Janeiro, 1963.

Clique AQUI para conhecer a página de Ascenso Ferreira no Jornal de Poesia. Explore-a com gosto, pois vale a pena.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Flipelô – Em busca de alguma democracia


Convido a todos para lerem um artigo muito sério e equilibrado, escrito por Henrique Wagner, um dos mais brilhantes autores da minha geração, sobre a problemática do coronelismo literário na Bahia. Como diz o autor, esse é o passo inicial para que algo seja feito em relação ao "trabalho" desonesto e nocivo para a poesia baiana, realizado por um poeta que tem muito mau gosto, além de tendências ditatoriais.
A Flipelô, noticiada recentemente, precisa de alguma democracia. E nós estamos mobilizados para que isso aconteça. Para ler basta clicar aqui.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Gabriel o Pensador fala após polêmica, mas não convence


Envolvido em uma polêmica no Rio Grande do Sul (ver postagem anterior), Gabriel o Pensador falou nesta terça-feira (24) ao G1, deu explicações sobre o cachê de R$ 170 mil que seria pago pela prefeitura de Bento Gonçalves para que ele participasse da Feira do Livro da cidade. O artista, que tem três livros publicados, todos eles, para mim, de qualidade duvidosa (não me perguntem se os li), deixou claro que o valor que receberia não está só atrelado ao fato de ser o patrono do evento. O dinheiro seria usado para comprar duas mil unidades das duas primeiras obras do autor – “Diário noturno” e “Um garoto Chamado Roberto” – pela bagatela de inacreditáveis R$35 o exemplar. O valor ainda bancaria um show ao ar livre, com entrada franca. Quem convive com o mercado livreiro sabe que uma obra quando vendida em larga escala, como é o caso, nunca é comercializada pelo valor de livraria. Em uma negociação com o poder público livros como os de Gabriel, raramente ultrapassam o valor comercial de R$15.
Resumindo, estou com o Capinejar e não abro!

Leia AQUI a entrevista na íntegra. 

Fabrício Carpinejar gera uma saudável polêmica ao cancelar sua participação em evento literário


Se além de gostar da obra literária do Fabrício Carpinejar, sobretudo de suas crônicas, e de simpatizar com sua face despojada, alegre e irônica, agora o cara ganhou alguns pontos a mais comigo. Isso porque, em carta aberta, o mesmo anunciou ter cancelado sua participação na 27ª edição da Feira de Livros de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, quando soube da discrepância entre o cachê recebido por escritores e o que seria pago ao músico Gabriel, o Pensador, creiam, patrono (como assim?) daquele evento.  
Fabrício Carpinejar anunciou e explicou que receberia a quantia de R$ 1 mil para participar de uma palestra no dia 16 de maio, enquanto o músico receberia R$ 170 mil da prefeitura. Absurda essa situação, pois mesmo dentro dos “domínios” literários um músico é mais valorizado que um escritor.
A feira começa no dia 9 de maio e segue até o dia 20. Na carta, segundo O Globo Online, enviada no domingo aos organizadores do evento, Carpinejar afasta hipóteses de desentendimentos com o músico e destaca a postura da prefeitura em alegar que havia um limite orçamentário para o pagamento dos escritores.

Conheça o site oficial do autor clicando AQUI.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

São Jorge Amado


Como hoje, 23 de abril, é comemorado o dia de São Jorge, convido os amigos a conhecerem uma belíssima entrevista concedida por um santo pouco genuíno, Jorge Amado, talvez a mais importante que o autor (chamado por um professor da UESC, oriundo da USP, de autor daqueles livrinhos) concedeu em toda sua vida. Ocorrida em julho de 1981 ao jornalista Antônio Roberto Espinosa para o caderno Literatura Comentada da Editora Abril. A mesma foi publicada por aqui em 2010. Eis o LINK.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Cobra de Duas Cabeças segue seu percurso pela boa e velha cidade de Salvador



Após uma noite muito agradável na Academia de Letras da Bahia, no dia de ontem, Cobra de duas cabeças segue seu percurso em lançamentos pela velha Salvador. Hoje será a vez de fazermos a festa no Sebo Praia dos Livros, a partir das 17 horas, no Largo Porto da Barra, oportunidade em que haverá também um excepcional sarau.

Para conhecer algumas passagens da obra e opiniões sobre a mesma basta CLICAR AQUI.



domingo, 15 de abril de 2012

Um poema novo a cada dia


Sou dono do silêncio,
esse código feito de grades e fechaduras.
Também sou dono dessa imensa
insatisfação que me acompanha.
Ouve-me, leitor, pois me revelo mudo!
Apesar disso, trago um farol
          estampado na face
e estampidos de fogos no peito.
Trago também um poema necessário,
tão necessário quanto o pão e o vinho,
um poema novo a cada dia.

*Poema vencedor da 29ª edição do Prêmio Yoshio Takemoto de Literatura (SP). Na mesma edição também tive um conto premiado, trata-se de O Amigo de Caymmi, que em breve publicarei aqui.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Livro com inéditos de Sosígenes Costa terá lançamento duplo em Salvador

Clique na imagem para ampliar
A Mondrongo Livros - Editora do Teatro Popular de Ilhéus, lança em Salvador, Cobra de duas cabeças, obra de Herculano Assis, organizado por Gustavo Felicíssimo, trazendo poesia e prosa inéditas de Sosígenes Costa. O evento ocorrerá na Academia de Letras da Bahia, na próxima quarta-feira, dia 18, a partir das 18 horas, e no Sebo Praia dos Livros, no Largo do Porto da Barra, dia 19, entre 17 e 19 horas. Na sequência do segundo dia acontece o imperdível Pós-Lida, com participação do antropólogo e historiador Luiz Mott e do poeta Glauco Mattoso (via internet).
Sosígenes Costa é considerado por especialistas como um dos maiores poetas baianos de todos os tempos, mas o ponto alto e inusitado da obra são textos teóricos sobre literatura, em que aborda a obra de poetas como Ferreira Gullar, Manuel Bandeira, Raul Bopp, entre outros. A obra recupera ainda uma rara entrevista de SC, concedida ao editor e jornalista Reynaldo Jardim, publicada nos anos 50 na 2ª edição da revista Marco, no Rio de Janeiro. Cobra de duas cabeças trás também textos críticos de Jorge de Souza Araujo e Heitor Brasileiro Filho, bem como anexos fotográficos do acervo familiar, manuscritos e originais datilográficos.  

Duas opiniões sobre Cobra de Duas Cabeças:

Cobra de duas cabeças, obra que resulta de amorosa pesquisa e justificado penhor, caros à memória de um poeta de excelência, aqui observado como pensador e crítico notabilizado por uma verrina que de tão surpreendente constitui-se mais ainda afeta à literatura baiana e brasileira.
Jorge de Souza Araujo

Os textos reunidos, particularmente a prosa, desmistificam a imagem quase sempre contemplativa, compenetrada, e até sisuda do poeta.  O que aparenta pouco para um autor da literatura brasileira, no caso específico de SC é muito significativo porque ajuda a compor um complexo mosaico. Traços de uma personalidade mitificada, exatamente, por ausência de informações precisas sobre sua vida e seu pensamento “objetivo”.
Heitor Brasileiro Filho

Site da Mondrongo: www.mondrongo.com.br

terça-feira, 10 de abril de 2012

Um poema para Carlos Pena Filho


Estou trabalhando na compilação da obra seleta de Adelmo Oliveira, poeta baiano, natural de Itabuna e um dos mais celebrados entre um grupo de escritores notabilizados por serem profundos conhecedores da teoria do verso e exímios artífices, poetas que ficaram conhecidos como Geração 60.
Há inúmeros poemas de Adelmo que admiro, a exemplo dos belíssimos “Soneto da Última Estação” e “O Som dos Cavalos Selvagens”, ambos de fases distintas, mas devidamente selecionados para publicação, como também o que segue abaixo, que é “Pássaro”, dedicado a Carlos Pena Filho, um soneto no melhor estilo do vate pernambucano, todo vazado por decassílabos heróicos[i], onde o poeta exprime a sua solidariedade ao homenageado, e por conseguinte a todos os poetas, irmãos na solidão porque é nela que o ato de escrever se consuma.

Pássaro
 Para Carlos Pena Filho, ausente

Eu canto e se cantar por solidão
A rosa em mim floresce no silêncio
Ninguém perturbe a paz deste momento
Em cuja fantasia eu me transvio

Muito menos turve a água desta fonte
Que bebo para o instante inumerável
Acaso sei de mim que transitório
Sustento um pé na terra, outro no espaço

Sou, pássaro de pedra sou – Jamais
Neguei de expor ao sol meu corpo duro
Tenho postura de animal correto

Falo também a mesma língua escrita
Irmão que sou de tua solidão
Ó navegante além da mesma rota


[i] Assim denominado por ser predominante nos poemas épicos, como Os Lusíadas, de Camões.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

E por falar em Carlos Pena Filho...

        Em Livro Geral, o poeta pernambucano Carlos Pena Filho reuniu toda a sua obra anterior e alguns inéditos, entre os quais Guia prático da cidade do Recife, divido em 13 partes, entre elas uma dedicada ao Chope, o nosso chopinho, que fora gravado em placa de bronze no Bar Savoy, muito frequentado pelo poeta e seus amigos. Deliciem-se!!!
                   
CHOPE
Carlos Pena Filho

Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antônio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde
mais se assemelha a um festim.
Nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
são trinta copos de chope,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.
Ah, mas se a gente pudesse
fazer o que tem vontade:
espiar o banho de uma,
a outra, amar pela metade
e daquela que é mais linda
quebrar a rija vaidade.
Mas como a gente não pode
fazer o que tem vontade,
o jeito é mudar a vida
num diabólico festim.
Por isto no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
são trinta copos de chope,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.

sábado, 7 de abril de 2012

Soneto da Sexta-feira da paixão


Não tivesse falecido tão precocemente, Carlos Pena Filho teria recebido mais atenção e destaque dentro da lírica brasileira, pois não se encaixando entre o modernismo e a Geração de 45, seus sonetos oscilam do cânone à pesquisa, com surpreendente independência para a idade em que estreou.
De sua lavra, muitos poemas me agradam e a eles retorno inúmeras vezes ao ano, como o Soneto para Greta Garbo e o clássico Soneto do desmantelo azul. Entretanto, pelo específico da data, faço hoje o que deveria ter feito ontem, publico o Soneto da Sexta-feira da paixão, uma pintura encontrada no seu espólio entre diversos fragmentos. Neste poema final, como afirma Edilberto Coutinho, o poeta parece “pressentir a morte, como se já tivesse enxergado o germe da indesejada no seio das rosas de seus versos[1]”.


Soneto da Sexta-feira da paixão
Carlos Pena Filho


Morto. Como também já morre o dia.
Mas continua a ser noutros lugares?
Ou morto diariamente nos altares,
por ser diversa a morte que morria?

O corpo morto: azul melancolia
do mesmo azul perdido pelos ares,
vivo azul sobre os campos, sobre os mares,
sobre a clara manhã e a hora tardia.

Um corpo morto. Um corpo morto de homem,
igual a esses cadáveres da guerra
que as batalhas atraem e consomem?

Ou um que junta o mundo à sua sorte,
contempla a sombra em torno e desce à terra
e morre em solidão e vence a morte?


[1] Em: Os melhores poemas de Carlos Pena Filho / Seleção de Edilberto Coutinho, Editora Global, 2000.

terça-feira, 3 de abril de 2012

50 anos de uma das mais belas canções


O que Quarteto em Cy, Caetano Veloso, Steve Wonder, Amy Winehouse, Frank Sinatra, Elis Regina e João Gilberto podem ter em comum, além de serem fantásticos músicos e intérpretes? Tá difícil? Todos aí citados integram o time de artistas que foram seduzidos pela sonoridade única de uma das mais belas músicas já compostas, concebida há exatos 50 anos, em 1962, por Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Ou seja, todos gravaram “Garota de Ipanema”, canção com lugar cativo na história da música universal, cuja letra traduz o trajeto de Helô Pinheiro entre o Bar Veloso e a praia carioca.
Helô Pinheiro e Vinícius de Morais
        Aos saudosistas de plantão, segue vídeo com o Quarteto em Cy, Joyce e Wanda Sá. Mais abaixo, Tom e Vinícius em famosa interpretação. ainda o Steve Wonder com sua filha Aisha, no Rock in Rio de 2011. Uma beleza!




Poesia Vazia - Alberto da Cunha Melo

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segunda-feira, 2 de abril de 2012

“Poesia é ouro sem valia”


Para Ferreira Gullar

Perdoe-me a gula
    o Gullar

poesia
não é ouro
é valia

ouro vale
quanto
o pesar

o quanto flutua
          a poesia

Heitor Brasileiro Filho

*Releia, CLICANDO AQUI, o artigo de Ferreira Gullar que inspirou o poema de Heitor Brasileiro Filho, e AQUI para conhecer outros poemas deste que, para mim é um dos melhores poetas baianos da minha geração.