domingo, 12 de fevereiro de 2012

O surfista


Kelly Slater, o maior vencedor do surfe mundial, comemorou neste último sábado (11), 40 anos. Trata-se de um fenômeno, dono de 11 títulos mundiais e dez recordes na história do surfe. A data foi lembrada pelos principais meios de comunicação do mundo e, só pra variar, me fez recordar um poema, dessa vez de Alberto da Cunha Melo, intitulado, justamente, O Surfista. Trata-se de uma retranca, forma poética composta de onze versos octossílabos, criada pelo próprio Alberto, que é um dos poetas brasileiros que mais gosto.
O octossílabo dá ao poema uma cadência, um ritmo que o autor desestabiliza propositalmente, alternando a cesura medial dos versos, que ora se encontram na quarta sílaba, ora na terceira e até na quinta, recurso que nos faz pensar na instabilidade própria do surfe.
No poema, algumas metáforas redimensionam o esporte, em que o surfista, com a sua prancha “desliza como uma lágrima” sobre o “instável chão do mundo”. Já o dístico final sustenta aquela imagem de que surfistas sempre estão acompanhados por lindas mulheres, “presente do oceano”. Realidade ou não, pelo menos o Kelly Slater sempre andou acompanhado por verdadeiras sereias. Em sua lista de namoradas, nomes famosos: a atriz americana Pamela Anderson e Gisele Bündchen. Sua atual companheira é Kalani Miller, uma californiana de 20 e poucos anos e dona de uma grife de biquínis.

O surfista
Alberto da Cunha Melo

Equilibrado sobre a folha
que desliza como uma lágrima
pela face daquela onda,
a mais esperada, a mais alta,

ama esse instável chão do mundo
que lhe falta a cada segundo,

e as paredes de transparência,
que almas e corpos atravessam
ao sol da súbita inocência:

na praia, fêmeas o esperando,
como um presente do oceano.

Em: Dois caminhos e uma oração (2003). Pág. 126. Editora A Girafa.

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