terça-feira, 29 de novembro de 2011


no criado-mudo
um livro de poemas
chegados à prosa

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

ESTRELA DO NATAL


Carvalho Filho

É a estrela primeira da tarde, a que surge
alta e só num céu ainda claro
de silêncio e luz morrente,
em pleno espaço violáceo que coroa
os horizontes submissos do crepúsculo.

A que arde lúcida além da alma dos longes
no escampo ar marinho,
tão intensa e solitária que nem no mistério
das águas anoitecendo ensimesmadas
se reflete.

Queima no ermo a estrela virgem do Natal:
é asa de fogo, asa de fogo vencendo
num obscuro céu de memória.
É a anunciação apocalíptica da noite.
É a luz da Eternidade.

Cintila única na tarde descolorindo
e no universo parado
a estrela rútila do Natal:
- sobre os morros flutuando na luz crepuscular
- sobre os mares exaustos
- sobre distâncias de tempo azul e cinza
- sobre distâncias siderais
- sobre a cidade satânica
- sobre o coração humano.

É o espírito de Deus velando a treva.

Em Breve Romanceiro do Natal
Salvador; Editora Beneditina, 1972.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Boi Morto


Um amigo me escreve dizendo que ao fazer sua necessária e obrigatória remada matinal na Enseada do Pontal, em Ilhéus, passou por ele, levado pela corrente, um cavalo morto, com apenas as patas podendo ser avistadas por sobre as águas. Tal relato me fez lembrar, e, inevitavelmente, me levou a reler o poema Boi Morto, do Manuel Bandeira.

Boi Morto

Como em turvas águas de enchente,
Me sinto a meio submergido
Entre destroços do presente
Divido, subdividido,
Onde rola, enorme, o boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.

Árvore da paisagem calma,
Convosco – altas tão marginais!
Fica a alma, a atônita alma,
Atônita para jamais.
Que o corpo, esse vai com o boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.

Boi morto, boi desconhecido,
Boi espantosamente, boi
Morto, sem forma ou sentido
Ou significado. O que foi
Ninguém sabe. Agora é boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Hitler após a 2ª Guerra na Argentina?


Hitler e a mulher não se suicidaram num "bunker" em Berlim no dia 30 de abril de 1945? É o que dizem os livros de história. A Folha de São Paulo do último dia 20, noticia que em The Grey Wolf - The Escape of Adolf Hitler, livro que acaba de ser lançado no Reino Unido, os britânicos Gerrard Williams e Simon Dunstan sustentam que Hitler escapou do "bunker" três dias antes de seu suposto suicídio. Então, voou para a Dinamarca e para a Espanha, e foi embarcado, com ajuda do general Franco, num submarino com destino à Argentina. Hitler teria se instalado em mais de uma residência na Patagônia, com Eva e duas filhas. Viveria mais 17 anos, e teria morrido no dia 13 de fevereiro de 1962, aos 72 anos. Os autores reuniram depoimentos de pessoas que dizem ter visto o Führer ou trabalhado para ele na Patagônia.
Parece ficção, e essa possibilidade de Hitler ter vivido até a morte na Argentina, um delírio. Entretanto, se o Führer tivesse escapado ileso da derrocada alemã, um dos lugares prováveis onde ele se exilaria seria sem dúvidas a nossa vizinha Argentina, pois é por demais sabido os laços de amizade que o regime nazista mantinha com o peronismo.  
Para quem quiser conhecer mais detalhes sobre o assunto, sugiro o livro “La autentica Odessa”, do jornalista com faro de historiador, Uki Goñi, onde está revelado um capítulo negro da história argentina: o país foi um porto seguro para nazistas depois da 2ª Guerra Mundial. Nessa obra, como afirma Sergio Kiernan, uma das coisas que mais chamam a atenção é o rigor do autor: cada afirmação possui uma nota citando um documento.
Tocar nesse assunto com nossos hermanos é muito desagradável. Para eles essa vergonha deveria ser sepultada e esquecida. Também, pudera!

domingo, 20 de novembro de 2011

PIANO


Arrebata-me ao pôr-do-sol
o som de um piano distante;
sua canção, que desconheço,
é magia por um instante;

entra pela porta e janela,
faz do aposento passarela

enquanto uma réstia de luz
cintila sobre o meu poema
que nesse momento transluz:

à folha toda iluminada
não cabe acrescentar mais nada.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Poemas de Lya Luft


              Fonte: O Estado de S. Paulo

O sono tornou-se inquieto por alguns instantes. “Sonhei que estavam me matando”, comentou o psicanalista Hélio Pellegrino com a mulher, a escritora e tradutora Lya Luft, durante a madrugada da segunda-feira, dia 21 de março de 1988. Tema comum na obra de ambos, a morte parecia ser apenas objeto de inspiração. Infelizmente, não era – incomodado por um desconforto gástrico, Pellegrino foi internado naquela manhã, depois de constatado um pequeno infarto. E, quando parecia que a recuperação se finalizava, uma parada cardíaca fulminante o matou. Era 23 de março. Ele estava com 64 anos e com muitos projetos. A perda súbita transtornou Lya. Suspensa da realidade pela dor, ela decidiu transformar o travo no coração em poesia. Nascia O lado fatal (Record, 96 pp., R$ 24,90). Trata-se de 40 poemas escritos num rompante, um por dia, que conciliam sentimentos contraditórios como raiva e pesar, esperança e desalento, dor e esperança.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Em algum lugar do paraíso


novíssimas crônicas de Veríssimo

Há quem diga que a crônica não se constitui como gênero literário, especialmente por ser, em princípio, um relato cronológico de fatos sucedidos, caracterizando-se como, digamos, a memória escrita, embora muitas possuam nitidamente alto grau de fabulação. Há vários tipos de crônicas, as que mais gosto são as humorísticas e as líricas, terrenos em que Luis Fernando Veríssimo vai muito, mas muito bem. Por isso o seu novo livro, Em algum lugar do paraíso (Objetiva, 184 pp., R$ 36,90), que traz 41 crônicas, todas inéditas em livro e escritas ao longo dos últimos cinco anos, era esperado com expectativa desde o anúncio da entrega dos originais para publicação. Nelas, o escritor fala sobre a vida, a morte, o tempo e o amor, sempre com um ar nostálgico e repleto de reflexões acerca das escolhas feitas ao longo da existência. O livro é cheio de personagens idiossincráticos e ao mesmo tempo banais. Todos possuem as mesmas inquietações, tão comuns a todo mundo.

Outros Silêncios por Edson Kenji Iura

O haikai, forma poética de origem japonesa, nasceu para o Brasil no início do século passado, através da pena de Afrânio Peixoto. Até hoje, prestamos tributos a esse e a outros baianos pioneiros, que ajudaram a forjar com talento a tradição do haikai nacional. Ao lado dos poetas nativos, a Bahia revelou também um estudioso do calibre de Carlos Verçosa, paranaense que adotou essa terra e que muito tem contribuído com seus estudos para resgatar a justa dimensão do haikai dentro da literatura brasileira. É o mesmo caso de outro forasteiro, o paulista de Marília Gustavo Felicíssimo, que, uma vez seduzido pelos encantos do sul da Bahia, deixou-se ficar entre Ilhéus e Itabuna, para formar família e dedicar-se à literatura. Transitando com destemor através do haikai e de suas formas conexas, o senryu, o renga e o haibun, todas registradas neste livro, Gustavo Felicíssimo soube plasmar todas as influências recebidas de baianos como Afrânio, Oldegar Vieira, Gil Nunesmaia e Abel Pereira numa obra que aponta para o futuro, ao honrar a tradição haikaísta do grande estado nordestino.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Tomás Segovia morre aos 84 anos


O poeta espanhol Tomás Segovia, exilado no México desde 1940, por conta da guerra civil espanhola, faleceu nesta segunda-feira, dia 7, aos 84 anos, na capital mexicana. Ele foi vítima de câncer, informou o Instituto Nacional de Belas Artes (INBA). Para Teresa Vicencio Álvarez, diretora geral do INBA, "Segovia é um dos poetas mais importantes das letras em língua espanhola”. De sua obra possuo apenas um livro, Lapso (1987), presente que recebi de um grande amigo. Dele retirei o belo soneto abaixo.

Tus pechos se dormían en sosiego

Tus pechos se dormían en sosiego
entre mis manos, recobrando nido,
fatalmente obedientes al que ha sido
el amor que una vez los marcó al fuego;

tu lengua agraz bebía al fin el riego
de mi saliva, aún ayer prohibido,
y mi cuerpo arrancaba del olvido
el tempo de tu ronco espasmo ciego.

Qué paz... Tu sexo agreste aún apresaba
gloriosamente el mío. Todo estaba
en su sitio otra vez, pues que eras mía.

Afuera revivía un alba enferma.
Devastada y nupcial, la cama olía
a carne exhausta y ácida y a esperma.

Para conhecer melhor o poeta e sua obra basta CLICAR AQUI

domingo, 6 de novembro de 2011

Outros Silêncios em São Paulo

O lançamento de Outros Silêncios em São Paulo foi ótimo. Emocionante rever amigos da Bahia na terra da garoa e haikaístas como Teruko Oda e Guin Ga que até então apenas "conhecia" via internet. Abaixo, algumas fotografias do evento. Agora estou em Marília, minha cidade natal, onde sábado o público e amigos conhecerão também o livro.

com o monge francisco handa

auditório lotado no colégio santo agostinho
guin ga, benedita azevedo e teruko oda (em pé)
convento santo agostinho
com edson kenji após autografar muitos livros

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

OUTROS SILÊNCIOS

meu novo livro será lançado neste sábado, em São Paulo


Trata-se do meu terceiro livro, ocorrerá em importante evento literário, o 23º Encontro Nacional de Haikaístas, em São Paulo, oportunidade em que farei uma palestra intitulada O haikai no nordeste e suas peculiaridades.
Depois da capital paulista lanço Outros Silêncios em Marília, minha cidade natal, na quinta-feira, dia 10. Será motivo de enorme alegria retornar ao meu berço após tantos anos, sobretudo para lançar um livro, rever familiares e amigos de longuíssimas datas.
Pode-se dizer que Outros Silêncios é o resumo do meu trabalho nos últimos dez anos em que estive imerso em formas poéticas oriundas do Japão. A grande novidade da obra fica por conta de uma série de 40 poemas sobre o rio Cachoeira, escritos em parceria com George Pellegrini, intitulados Renga do Rio Cachoeira, poemas que refletem nossa indignação com o descaso e irresponsabilidade das autoridades para com os rios do Brasil, sintetizados no Cachoeira, o principal aqui da região onde vivo, o sul da Bahia. 

Quem quiser adquiri-lo (ao preço de 20,00, incluso o frete) pode escrever para: gfpoeta2@hotmail.com

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O modernismo visto do avesso


Fonte: Folha de S. Paulo - 29/10/2011

A história da literatura brasileira, tal como é ensinada nos manuais e reproduzida na universidade, arma-se sobre uma lógica "centralista, centrípeta e excludente", traços que partilha com a organização política e econômica do país, afirma Luís Augusto Fischer, Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e um dos principais nomes da nova geração de críticos literários no Brasil, em O modernismo visto do avesso. É preciso, portanto, reescrevê-la, conclui o autor de Literatura Brasileira: Modos de usar (L&PM) e Machado e Borges (Arquipélago).
Comprarei o meu exemplar hoje mesmo, pois esse texto eu quero ver de perto, pois sempre observei o Modernismo no Brasil a certa distância e como um modelo frouxo e permissivo, prestador de um desserviço à poesia brasileira que a partir da mal entendida liberdade, caiu, muitas vezes, como dizia o mestre Ildásio Tavares, na permissividade e no vulgarismo.

Clicando AQUI se poderá ler uma boa entrevista com o autor.