segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Oração pelo poema - Poema Nº 1


Alberto da Cunha Melo

Escrevo de cabeça baixa
por que levantá-la depois?
Não o faça para ser visto
pelos que passarem na estrada.

Viver na mesma posição
mas deixando a alma sair
pelos olhos e pela boca,
como água a jorrar de uma estátua.

Este é o tempo em que Deus regressa
pelos quatro cantos da casa.
Vem desenterrar o poema
do meu corpo e gritar comigo.

Recebe-o diante do espanto
dos amigos que não o vêem,
tenho gestos incompreensíveis
e digo coisas já remotas:

Senhor, protege meu poema
e obscurece com tua sombra
os versos mortos, as palavras
que sobram, o tempo perdido.

Relação externa:
Poema único, dividido em 30 partes, é um dos mais belos da obra de Alberto da Cunha Melo. Foi escrito no verão de 1967 e publicado originalmente em 1969, em separata da revista Estudos Universitários, da Universidade Federal de Pernambuco. Está disponível, AQUI

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