quinta-feira, 30 de junho de 2011

Rubem Fonseca em dose dupla



Rubem Fonseca, além de um novo livro de contos, “Axilas e outras histórias indecorosas”, publicará pela Nova Fronteira a novela “José”, cujo protagonista lembra muito o próprio autor, comenta Ancelmo Gois n’O Globo de 28/06. José aprendeu a ler sozinho, apaixonou-se por literatura (sobretudo, os romances policiais), formou-se em Direito e começou a escrever numa velha máquina Underwood. Parece mesmo uma autobiografia. Os dois livros serão lançados na Flip.

Uma temporada no inferno - Trecho


Outrora, se bem me lembro, minha vida era um festim onde se abriam todos os corações, onde corriam todos os vinhos.
Uma noite, sentei a Beleza em meus joelhos. — E encontrei-a amarga. — E insultei-a.
Levantei-me em armas contra a justiça.
Fugi. Ó bruxas, ó miséria, ó ódio, é a vós que meu tesouro foi confiado!
Consegui extirpar de meu espírito toda esperança humana. Pulei sobre toda alegria, para estrangulá-la, com o salto silencioso da fera.
Chamei os carrascos para, ao morrer, morder a coronha de seus fuzis. Chamei os flagelos para afogar-me com a areia, o sangue. A desgraça foi meu deus. Chafurdei na lama. Sequei-me ao ar do crime. E preguei boas peças à loucura.
E a primavera me trouxe o pavoroso riso do idiota.
Recentemente, quando me encontrava nas últimas, pensei procurar a chave do antigo festim, onde talvez eu recobraria o apetite.
A caridade é a chave. Esta inspiração prova que eu sonhava!
“Continuarás sendo hiena, etc...”, exclama o demônio que me coroou com tão amáveis papoulas. “Recebe a morte com todos seus apetites, e teu egoísmo e todos os pecados capitais”.
Ah! foi o que fiz, e em excesso: — Mas, caro Satã, eu te conjuro; um olhar menos irritado! e, na espera de algumas pequenas infâmias em atraso, para ti que preferes no escritor a ausência de faculdades descritivas ou instrutivas, eu destaco algumas folhas horrendas de meu caderno de condenado.

Arthur Rimbaud. Tradução de Janer Cristaldo.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O amor do soldado


O jornal O Globo de hoje, 29/06, noticiou que a Companhia das Letras acaba de lançar a única obra para teatro que Jorge Amado escreveu. Em verdade, se trata de um relançamento. Falamos de O amor do soldado (168 pp., R$ 39), escrito em 1944, por encomenda da formidável atriz e diretora teatral Bibi Ferreira, e lançado em 1947, quando do centenário de Castro Alves.
A trama é centrada na última parte da breve vida de Castro Alves (1847-1871), e em seu atormentado romance com a atriz portuguesa Eugênia Câmara. Com cenas e diálogos inflamados, o texto sugere uma encenação com atores misturados à plateia, inclui peças dentro da peça e um narrador que fala diretamente ao público.
A iniciativa da publicação é elogiável, afinal, a partir de agosto deste ano e durante 2012, Jorge Amado estará no centro do debate literário brasileiro, quiçá mundial, pela passagem do seu centenário. 

terça-feira, 28 de junho de 2011

No Inferno (excertos)


Mergulhando a imaginação nos vermelhos Reinos feéricos e cabalísticos de Satã, lá onde Voltaire faz sem dúvida acender a sua ironia rubra como tropical e sanguíneo cactos aberto, encontrei um dia Baudelaire, profundo e lívido, de clara e deslumbradora beleza, deixando flutuar sobre os ombros nobres a onda pomposa da cabeleira ardentemente negra, onde dir-se-ia viver e chamejar uma paixão. (...)
A boca, lasciva e violenta, rebelde, entreaberta num espasmo sonhador e alucinado, tinha brusca e revoltada expressão dantesca e simbolizava aspirar, sofregamente, anelantemente, intensos desejos dispersos e insaciáveis. (...)
Mas, a sua atitude serena, concentrada, isolada de tudo, traía a meditação absorvente, fundamental, que o encerrava transcendentemente no Mistério.
E eu, então, murmurei-lhe, quase em segredo:
— Charles, meu belo Charles voluptuoso e melancólico, meu Charles nonchalant, nevoento aquário de spleen, profeta muçulmano do Tédio, ó Baudelaire desolado, nostálgico e delicado! Onde está aquela rara, escrupulosa psicose de som, de cor, de aroma, de sensibilidade; a febre selvagem daqueles bravios e demoníacos cataclismos mentais; aquela infinita e arrebatadora Nevrose, aquela espiritual doença que te enervava e dilacerava? Onde está ela? Os tesouros d'ouro e diamante, as pedrarias e marchetarias do Ganges, as púrpuras e estrelas dos firmamentos indianos, que tu nababescamente possuíste, onde estão agora? (...)
Ó Baudelaire! Ó Baudelaire! Ó Baudelaire! Augusto e tenebroso Vencido! Inolvidável Fidalgo de sonhos de imperecíveis elixires! Soberano Exilado do Oriente e do Letes! Três vezes com dolência clamado pelas fanfarras plangentes e saudosas da minha Evocação! Agora que estás livre, purificado pela Morte, das argilas pecadoras, eu vejo sempre o teu Espírito errar, como veemente sensação luminosa, na Aleluia fúlgida dos Astros, nas pompas e chamas do Setentrião, talvez ainda sonhando, nos êxtases apaixonados do Sonho...

Cruz e Souza, em Evocações (Edição póstuma - 1898).

Clique AQUI para baixar a edição completa de Evocações, belíssimo livro de poesia em prosa que não pode deixar de ser lido.

domingo, 26 de junho de 2011

Gitanjali - Poema 58

Deixa que todos os acordes da alegria misturem-se no meu último canto – o júbilo que faz a terra transbordar no excesso violento da relva; o júbilo que dispõe  a vida e a morte – irmãs gêmeas – dançando juntas pelo mundo imenso; o júbilo que arrebata como a tempestade, sacudindo e despertando a vida numa gargalhada; o júbilo que repousa silencioso como as suas lágrimas dentro   do lótus entreaberto e vermelho da dor; o júbilo que atira ao pó tudo quanto possui e que não se traduz em palavras.

Rabindranath Tagore, em Gitanjali (3ª Edição). Poema 58. Coordenada – Editora de Brasília. Tradução de Gasparino Damata.

Obs: Conheça melhor esse magnífico poeta indiano clicando AQUI.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Embriaguem-se


É preciso estarem sempre embriagados. Aí é que tudo está: esta é a única questão. Para não sentirem o horrível  fardo do Tempo que lhes quebra os ombros e recurva  o dorso, precisam embriagar-se sem trégua.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à sua guisa. Mas embriaguem-se.
E se, de vez em quando, vocês acordarem na escada de um palácio, na relva verde de uma vala ou na morna solidão do seu quarto, tendo a embriaguez já diminuído ou desaparecido, perguntem ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntem que horas são, e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, responder-lhe-ão: “É hora de embriagar-se! Para não serem escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude,  à sua guisa”.

Charles Baudelaire, O Esplim de Paris: Pequenos poemas em prosa. Ed. Martim Claret. Tradução de Oleg Almeida.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Meus poemas nascem sangrando


                                Sentir, sinta quem lê
                         Fernando Pessoa


          Como pode descer dos céus um poema assim mesmo feito um raio? Seria presente dos deuses ou condenação sumária? Viver permanentemente atado aos desejos de outrem...
          Não, senhores, o poema não é um dom divino. Antes ele é uma conquista, fruto da imaginação e da destreza do poeta. O poema também não é o sentir, antes ele é o sentido. Mas quem quiser que sinta! Eu transpiro enquanto escrevo.
          Meus poemas nascem sangrando.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

E por falar em Ferreira Gullar...


Em outubro do ano passado, logo após lançar “Em alguma parte alguma”, Gullar concedeu uma entrevista ao jornalista Marcos Dias, do jornal A Tarde, diário aqui da Bahia, oportunidade em que foi indagado sobre a métrica na poesia. Disse-lhe o jornalista que por aqui “ainda há quem acredite que um soneto é a prova dos nove para alguém ser considerado poeta”, e pergunta-lhe o que pensa a respeito. O jornalista estava fazendo referência há poetas que sempre condenaram a preguiça mórbida de escritores que teimam em desconhecer o que pulsa por dentro das formas fixas, e que por isso mesmo não conseguem avançar um único passo em suas obras, o que acabou resultando em tensões entre um e outro grupo.
Particularmente penso que conhecer sobre versificação e métrica é fundamental, sobretudo nos dias de hoje em que a poesia está engessada, o que pode parecer contraditório, mas não é, pois com a banalização do verso livre – que de livre só tem o nome – ganha muito quem possui passagem pelas formas fixas justamente porque elas nos dão maior intimidade com o andamento do poema e mais consistência na composição das imagens, aquilo que Pound chamou de melopéia e fanopéia, elementos que carregam de energia a linguagem poética que, combinados o conteúdo do poema, se extrai uma obra sublimada pela beleza estética.
Mas vejamos o que Gullar respondeu ao jornalista: você pode fazer um soneto e ser uma poesia de alta qualidade e pode fazer sonetos e ser uma bobagem. Uma das coisas que poesia rimada e metrificada provocava era a ilusão de que se está rimada e metrificada direitinho é poesia. E não era. Não basta estar dentro do tamanho e da medida para ser poesia. Grande parte de poesia parnasiana brasileira não presta e, no entanto, está tudo bem rimado e metrificado. Poesia não é isso. Agora, você pode fazer poesia rimada e metrificada de alta qualidade. João Cabral de Melo Neto é um exemplo disso.
Nada do que o poeta disse é novo, mas vale para todos o velho alerta de que se não são quatorze versos rimados e metrificados que fazem um soneto, tampouco será um poema qualquer amontoado de versos livres que não observem aquelas simples considerações do velho Pound.
Mas vamos ao que realmente interessa nessa postagem de hoje, um belíssimo poema metrificado, uma redondilha menor cheia de ritmo. Um poema de Ferreira Gullar ao melhor estilo Bossa Nova, que a meu ver poderia muito bem ser atribuído ao Vinícius de Morais.

Definição da Moça

Como defini-la
quando está vestida
se ela me desbunda
como se despida?

Como defini-la
quando está desnuda 
se ela é viagem
como toda nuvem?

Como desnudá-la
quando está vestida
se está mais despida
do que quando nua?

Como possuí-la
quando está desnuda
se ela toda é chuva?
se ela toda é vulva?

Em Muitas Vozes, 1999. Ed. José Olympio, pág. 73.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Exposição "Gullar 8 & 80" será itinerante


Entre 17 de dezembro e 13 de março esteve em cartaz no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, a exposição Gullar "8 & 80" para festejar os 80 anos do maior poeta brasileiro vivo, onde foram exibidas fotos originais inéditas, objetos pessoais como a sua máquina de escrever, a primeira página manuscrita de Poema Sujo, uma de suas obras mais conhecidas, além de algumas pinturas e aquarelas de sua autoria.
Essa exposição, segundo informa Ancelmo Gois n’O Globo de ontem, no segundo semestre percorrerá o Brasil, começando por São Paulo. No Rio, a exposição, com curadoria de Carlos Dimuro, reuniu 50 mil pessoas.
Estou na torcida para que também venha para a Bahia.

O baú do Drummond

Fonte: O Estado de S. Paulo - 18/06/2011

São três cadernos da antiga marca De Luxe, com páginas sem pauta e uma etiqueta em cada capa: "Versos de Circunstância". Neles, o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) registrou dedicatórias e anotou versos, muitos versos, exatos 295, dos quais 229 inéditos. Cuidadosamente guardados, os objetos foram reproduzidos e transformados em livro com o mesmo título, Versos de circunstância (Instituto Moreira Salles, 290 pp., R$ 55). São textos que traduzem a fugacidade e reproduzem brincadeiras com amigos, a quem também são dirigidas palavras de afeto.

Para que se tenha melhor entendimento do que são feitos os tais versos de circunstância sugiro CLICAR AQUI e fazer a leitura do Boletim nº 255 do poesia.net, cuidadosamente  editado durante anos pelo poeta Carlos Machado.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O melhor da Geração Zero Zero?



Há poucos dias recebi do poeta e ficcionista João Filho, um convite para o lançamento de uma antologia de contos, organizada por Nelson de Oliveira, cujo singelo título é Geração Zero Zero, uma clara alusão aos escritores surgidos na primeira década deste século, cuja produção literária foi reconhecida em primeiro lugar por sua vitalidade, expressa na multiplicação de blogs, revistas, antologias e livros de estreia que lançaram uma multidão de novos escritores aos olhos de leitores e críticos às vezes aturdidos, ou ao menos desorientados.
De um período de acelerada atividade, como foram os anos 2000 para a literatura brasileira, como recolher em meio à balbúrdia textual aquilo que ela trouxe de mais valioso? É essa pergunta incômoda que o crítico e escritor Nelson de Oliveira encara em Geração Zero Zero: Fricções em rede (Língua Geral, 408 pp., R$ 45), livro que se anuncia já na contracapa como uma reunião dos “melhores ficcionistas brasileiros surgidos no início do século XXI”. Será? Embora reconheça a qualidade do texto de alguns contistas selecionados, particularmente, tenho a tendência a ignorar e desacreditar dessas pretensões superlativas que julgo tão megalomaníacas como chauvinistas.

          Em todo caso, sugiro que se Clique AQUI para ler uma entrevista com Nelson de Oliveira sobre o trabalho de organização do livro, e AQUI para ler a resenha da crítica Beatriz Resende.

Um ano sem José Saramago

José Saramago foi lembrado neste sábado, dia 18, pelo primeiro ano de aniversário de sua morte. Neste dia, suas cinzas foram depositadas em uma oliveira em frente à Casa dos Bicos, em Lisboa, onde funcionará a Fundação José Saramago. A jornalista Isabel Coutinho escreveu sobre a homenagem e o texto pode ser conferido AQUI.

Haikai - Antologia e História

Ótima dica para os amantes do haikai


Há muito tempo o livro "Haikai - Antologia e História", de Paulo Franchetti, encontra-se esgotado, à espera de uma nova edição. Porém, para atender às diversas pessoas que o têm procurado, o autor – que é um dos grandes mestres sobre o tema no Brasil - resolveu disponibilizar gratuitamente a introdução dessa obra, um rico ensaio sobre a história e as características do haikai japonês.

Eis os link:  

sábado, 18 de junho de 2011

Os Bagos do Professor


Recentemente tive a grata surpresa de ter um conto – Os bagos do professor – laureado no Prêmio Internacional Cataratas, promovido pela Fundação Cultural de Foz do Iguaçu. Digo “surpreso”, pois o conto é uma atividade à qual pouco me dedico, mas com a qual tenho me divertido bastante. São, em suma, contos de um poeta.  
Infelizmente, por enquanto, não posso publicar aqui Os bagos do professor, mas adianto que nele há um poema intitulado Inóspita Claridade que faço questão de compartilhar com todos. Peço especial atenção às três palavras que concluem os três últimos versos, elas são fundamentais para um bom entendimento do poema.

Inóspita Claridade

Eu faço versos por viver na poesia
todo universo do real e do abstrato,
feito um menino que contempla a fantasia
enquanto bárbaros renegam seu retrato.

Eu faço versos porque vejo a claridade
do novo tempo que está prestes a nascer,
quando irmanados e distante a falsidade
a humanidade poderá se conhecer.

Verá sua face no sorriso da criança,
em cada gesto de modéstia ou de virtude:
no seu semblante verá toda plenitude.

Verá que a luz se faz presente e a esperança,
palavra viva, vem somar-se à liberdade,
reconduzida ao seu lugar, junto à verdade. 

sexta-feira, 17 de junho de 2011

DO NADA,

NADA VEM
(Lucrécio)

Instituto Tom Jobim disponibiliza riquíssimo acervo de Chico Buarque


Informações da Folha On line

Enquanto aguardam o novo disco de Chico Buarque - cuja pré-venda começa na segunda-feira -, seus fãs ganham amplo acesso ao passado do cantor e compositor com o lançamento de seu acervo digital no site do Instituto Antonio Carlos Jobim.
A obra digitalizada do artista foi lançada oficialmente na rede nesta sexta-feira, e seus números dão uma dimensão do volume acessível: são 1.044 imagens, 7.916 letras e partituras e 26.152 textos, entre cadernos, documentos pessoais, reportagens de imprensa, roteiros para cinema e teatro, correspondências.
O filé, no entanto, são as gravações de áudio e vídeo, que somam cerca de 600 arquivos e incluem toda a discografia de Chico, com cada uma de suas canções, algo que nem mesmo o site oficial do artista disponibiliza.
Acesse clicando AQUI.

Soneto do Último Tango


               Adelmo Oliveira

Aquela que passava pela vida
Dançava na vertigem dos desejos
 - Vertigem que nasceu dos olhos negros
Fincando os pés no chão da melodia

Aquela que brilhava como o dia
Vestia-se da noite nos cabelos
Tinha o sexo na luz contra os espelhos
- Metáfora da imagem seduzida

Mas tudo desabou dentro do peito
- A flor do baile desfolhou no leito
Fingindo a dor nos vãos de um picadeiro


Bandoneon correu atrás da lua
- A louca já dançava pela rua
Sobre as ondas do mar do desespero

Saiba mais sobre Adelmo Oliveira AQUI.

quarta-feira, 15 de junho de 2011


o tempo passando
como o fluir da existência –
enigma divino 

Fotografia de Pedro Montalvão

terça-feira, 14 de junho de 2011

Nova edição da revista virtual Diversos Afins


        Caríssimos, está no ar a mais nova edição da revista virtual Diversos Afins, da qual destaco uma ótima crônica - A angústia da criação - do multiartista W. J. Solha. Também sugiro especial atenção aos quadros de um dos mais destacados artistas plásticos baianos da atualidade, Gabriel Ferreira. O leitor ainda poderá curtir uma entrevista com o escritor Geraldo Lima, poemas de Vera Lúcia de Oliveira, Ale Safra, Alberto Boco, Carolina Caetano, Alba Liberato, Alexandre Bonafim, Carlos Sánchez, um conto de Regina M. A. Machado, outro de Isaias de Faria. 
           É clicar AQUI, acessar e se deliciar.

domingo, 12 de junho de 2011

Um aforismo adequado aos idiotas

Certas palavras são como granadas. Usadas com imperícia explodem na boca.
(Graham Greene)

sábado, 11 de junho de 2011

Setenta balcones y ninguna flor


Setenta balcones y ninguna flor é um antológico poema do escritor argentino Baldomero Fernández Moreno (1886 – 1950) que há tempos me tem encantado. Baldomero é um poeta que utiliza a linguagem sem florilégios, mas ao mesmo tempo de uma forma profundamente singular e aparentemente espontânea. Seus poemas parecem descrever pinturas.
         Confesso que gostaria muito de traduzir o poema para postá-lo aqui, entretanto, como o trabalho será árduo, tendo em vista a métrica rigorosa que segue o poeta, dividindo cada verso em dois hemistíquios de cinco sílabas cada, terei que – por enquanto – me contentar em publicá-lo em sua língua pátria, o espanhol, embora não exista dificuldades em sua completa compreensão.
Vale ressaltar duas palavras utilizadas: uma delas é “balcones”, que para nós é o mesmo que “sacada”, “varanda”. O poeta fala de uma casa com setenta sacadas, muito grande, imponente, mas que não ostenta nenhuma flor, o que lhe confere um ar hostil, crepuscular. Outra palavra um pouco incomum é “hierro”, que para nós é o mesmo que “grade”, “gradil”. O poeta pergunta se na casa não se quer ver abrir-se um jasmim sobre o negro gradil.
Sugiro – sobretudo a poetas iniciantes – que o poema seja lido e relido inúmeras vezes a fim de se buscar apreender todos os sentidos dessa formidável composição, sobretudo a sua melodia e os aspectos mais relevantes do discurso do autor e sua inflexão singular. Ao final, não deixe de assistir ao vídeo.

Setenta balcones y ninguna flor
Baldomero Fernández Moreno

Setenta balcones hay en esta casa,
setenta balcones y ninguna flor.
¿A sus habitantes, Señor, qué les pasa?
¿Odian el perfume, odian el color?

La piedra desnuda de tristeza agobia
¡dan una tristeza los negros balcones!
¿No hay en esta casa una niña novia?
¿No hay algún poeta lleno de ilusiones?

¿Ninguno desea ver tras los cristales
una diminuta copia de jardín?
¿En la piedra blanca trepar los rosales,
en los hierros negros abrirse un jazmín?

Si no aman las plantas no amarán el ave,
no sabrán de música, de rimas, de amor.
Nunca se oirá un beso, jamás se oirá una clave...

¡Setenta balcones y ninguna flor!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Roberto Sosa, um grande poeta hondurenho


        Sempre cri na função estética da linguagem, na função existencial do poema quando o poeta canta os sentimentos íntimos que são comunicantes de emoções ou de anseios coletivos. Por isso não ignoro a função social e crítica da poesia, mas ignoro os poetas que se alijam do compromisso por uma sociedade menos desigual, equitativa e solidária. Apesar disso, sempre detestei a leitura de poetas panfletários, aqueles que colocam as ideologias antes do poema, não o contrário, como deve ser.
Por isso sempre li poetas de alma lírica e consciência crítica. Entre meus preferidos está o poeta Ferreira Gullar e o hondurenho Roberto Sosa, falecido no último mês de maio aos 81 anos. Sem seus versos a poesia e a própria humanidade ficam um pouco mais carentes. Sem seu grande poeta, Honduras fica um pouco mais pobre.
Abaixo, um poema de Roberto Sosa para exemplificar o que digo.


Os Pobres

Os pobres são muitos
e por isso
é impossível ignorá-los.

Seguramente
vêem
nos amanheceres
múltiplos edifícios
onde eles
quiseram viver com seus filhos.

Podem
levar nos ombros
o féretro de uma estrela.

Podem
destruir o ar como aves furiosas,
nublar o sol.

Mas desconhecendo seus tesouros
entram e saem por espelhos de sangue;
caminham e morrem lentamente.

Por isso
é impossível ignorá-los.

Tradução de Gustavo Felicíssimo


Los pobres

Los pobres son muchos
y por eso
es imposible olvidarlos.

Seguramente
ven
en los amaneceres
múltiples edificios
donde ellos
quisieran habitar con sus hijos.

Pueden
llevar en hombros
el féretro de una estrella.

Pueden
destruir el aire como aves furiosas,
nublar el sol.

Pero desconociendo sus tesoros
entran y salen por espejos de sangre;
caminan y mueren despacio.

Por eso
es imposible olvidarlos.

A vida e a música de Bob Dylan


Fonte: PublishNews - 09/06/2011

Em 1961, Robert Shelton, crítico de música do New York Times, viu algumas apresentações em cafés de um músico meio caipira, meio anárquico, recém-chegado de Minneapolis. Gostou do que viu e ouviu e se tornou o primeiro jornalista a indicar Bob Dylan para seu público. Também foi a partir disso que os dois estabeleceram uma longa e íntima amizade, culminada em 1986 com o livro No Direction Home: A vida e a música de Bob Dylan (Larousse, 768 pp., R$ 99 – Trad. Gustavo Mesquita), que ganha relançamento mundial para comemorar o septuagésimo aniversário do músico, em 24 de maio.
A nova edição foi atualizada com a completa discografia do músico, análises sobre cada canção e 16 páginas de fotos dos momentos mais marcantes da vida dele, além de ser acrescida de vários trechos inéditos do manuscrito original encontrados no espólio de Shelton.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Poema para Abel Pereira


No seu haikai pulsa o silêncio sempiterno,
a natureza entre mil tons a refletir:
minimalismos ante um tempo tão moderno.

São vaga-lumes que iluminam o existir
das coisas simples onde a paz se configura
qual o cenário de um regato a resistir.

Suas imagens o horizonte transfigura,
repousa o céu por sobre as asas do amanhã
onde a centelha do esplendor nos inaugura.

Melhor que pensem, um haikai é coisa vã;
melhor deixar, além do mar, o sol se pôr,
pois na alvorada, a doce luz de outra manhã.

Lá vai Abel, buscar a síntese e compor
todo universo de uma forma singular,
vai com as vagas, leve pluma, luz e flor.

Conheça um pouco do meu homenageado clicando aqui.

terça-feira, 7 de junho de 2011

O papel como prazer diante do livro eletrônico como fonte de informação


Fonte: Terra - 06/06/2011

A possibilidade de convivência da edição impressa com o formato eletrônico dominou nesta segunda-feira boa parte dos debates do 2º Fórum Mundial da Unesco sobre a Cultura, na cidade italiana de Monza, no qual as editoras expuseram sua incipiente aposta na digitalização de seus lançamentos. O escritor chileno Antonio Skármeta afirmou à Agência Efe que a informação se "presta à linguagem sucinta, sintética" como a utilizada nas redes sociais, como Facebook e Twitter, nos blogs e também nos jornais. Em contraposição, Skármeta definiu a literatura como "a genialidade de contar histórias por prazer", que necessita de "tempo para explorar sua complexidade sem uma finalidade última" e encontra no livro de papel seu grande aliado.
            Para continuar lendo, clique aqui.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Por detrás das castanholas

Um filme produzido por mim e alguns amigos em um laboratório de experimentações audiovisuais

Eis o link no you tube: 
http://www.youtube.com/watch?v=2A3YKzCzALw

Quem merece ser membro de uma academia de letras?


Merval Pereira, quem diria, foi parar na Academia Brasileira de Letras. Ao ser eleito há poucos dias para uma cadeira da Academia Brasileira de Letras, o jornalista carioca, colunista de O Globo e comentarista do canal Globonews, tornou-se um dos temas mais comentados no meio literário. Virou assunto por reavivar uma antiga discussão: quem merece ser membro de uma academia de letras e quais os requisitos para isso?
Tudo porque Merval Pereira tem apenas dois livros publicados, um deles em co-autoria com outros autores. Embora isso, venceu com folga o renomado escritor baiano Antônio Torres, autor de 17 obras publicadas, entre romances, contos e crônicas.
A controvérsia deriva, na verdade, de um debate onde se destaca o componente político de uma eleição na casa. Um dos acadêmicos chegou a afirmar que "o Merval é um homem da mídia, alguém que, na política brasileira, tem importância”. E que “isso pesa para alguns acadêmicos."
Outra distorção histórica ocorreu com Mário Quintana. O poeta gaúcho, um dos maiores da língua portuguesa em todos os tempos, tentou por três vezes uma vaga à Academia Brasileira de Letras, mas não obteve êxito. Ao ser convidado a candidatar-se uma quarta vez, mesmo com a promessa de unanimidade em torno de seu nome, o poeta recusou.
Um caso clássico desse tipo de distorção é o do ex-senador e governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães que, por ter sido benfeitor da Academia de Letras da Bahia, teve lá o seu nome imortalizado.
Pelos interiores do Brasil a coisa piora, multiplicam-se as academias de letras, onde se acotovelam inúmeros alpinistas sociais, pessoas que buscam alguma visibilidade pública muitas vezes à força do dinheiro ou do poder político, mas que em nada contribuem com a língua ou literatura. São, em geral, políticos, advogados, jornalistas, professores, colunistas sociais, mas escritores com obras relevantes, como diria meu falecido pai, neca de pitibiribas

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Poema para Sosígenes Costa


Nos seus pavões vive o lirismo a refletir,
pousando etéreo, visitando o próprio passo,
na completude  do que é belo a persistir.

Sua pungência suplantou o tempo baço
e no regaço da palavra a simetria
de cada sílaba ordenando o seu compasso.

Foi no caminho que refez a geometria
sosigenando e contemplando sem espanto
a natureza de uma forma que o nutria.

Pintou as tardes e o crepúsculo em seu canto,
pintou sereias e do mar trouxe um dragão,
buscou na China porcelana e muito encanto.

Fez do soneto liberdade e não prisão,
o seu libelo de beleza e lucidez,
fez da elegância do mistério, invenção.

Clique AQUI  e conheça o meu homenageado, 
o maravilhoso poeta Sosígenes Costa.

Como anda a produção das novas escritoras?


É isso que o coletivo Edith quer saber, por isso, recebe até o dia 17 de junho originais de todos os gêneros (exceto o infanto-juvenil). O melhor livro inscrito será publicado pela Edith e a autora participará da Balada Literária. A ideia é encontrar, revelar e promover a literatura produzida pelas mulheres de todos os cantos do Brasil. Podem participar escritoras de todas as idades, brasileiras ou residentes no país há mais de dois anos. O resultado sai no dia 15 de setembro. Confira o regulamento AQUI.