quinta-feira, 26 de maio de 2011

A Poesia de Mia Couto


       O Maçambicano Mia Couto tornou-se nos últimos anos um dos ficcionistas mais conhecidos da literatura de língua portuguesa. O que pouca gente sabe – sobretudo no Brasil – é que sua primeira publicação, em 1986, foi “Raíz de Orvalho”, um livro de poesia. De lá para cá publicou outros 21 livros, todos em prosa e em vários gêneros, entre eles romance, conto, crônica, ensaio. Em 2007 voltou à poesia com “Idades, Cidades, Divindades”.
Nada disso eu saberia se o meu amigo Pedro Montalvão, de volta de Portugal, não me trouxesse um ótimo presente, o livro “Tradutor de Chuvas”, o mais recente desse fabuloso Mia Couto, a quem estive lendo nas últimas duas manhãs, peito nu e pé no chão, em uma praia tranquila aqui de Ilhéus.        
Percebe-se que o livro tem muito de autobiográfico e uma linguagem cotidiana, no mesmo nível da fala comum, o que não limita seu discurso que se encontra eivado de metáforas.
Pretendo voltar a postar algumas das minhas impressões sobre a poesia de Mia Couto, mas por enquanto deixo para os leitores aquilo que em “Tradutor de Chuvas” até o momento mais me encantou.

SEIOS E ANSEIOS

As vezes que morri
boca derramada entre os teus seios,
todas essas vezes
não me deram luto
porque, de mim, eu em ti nascia.

Todos esses abismos,
meu amor,
não me deram regresso.

Depois de ti,
não há caminhos.

Porque eu nasci
antes de haver vida,
            depois de tu chegares.

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