quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Continuando com o Pasticho

Lourival Pereira Filho, o Piligra, é, apesar de bastante jovem, provavelmente, o poeta brasileiro que mais se valeu do Alexandrino Trímetro (verso com cesura nas 4ª, 8ª e 12ª sílabas) para compor a sua lira, tendo escrito mais de dois mil sonetos dentro dessa forma. Temos um contato muito próximo, o que nos faz ter acesso em primeira mão à produção um do outro. O resultado dessa forte amizade é que sobrou para mim a revisão dos poemas do seu próximo livro, o que me levou a internalizar o ritmo da sua poesia e cometer também o meu Pasticho, um exercício apenas, dentro daquela forma poética tão peculiar do meu amigo. Aproveitei o tema impresso em “Desencanto” e “Esperança”, de Manuel Bandeira e Jorge Medauar, respectivamente, para construir o meu Alexandrino, embora na forma e na linguagem, o modelo é a poesia do meu amigo.

Concepção
Piligra

eu já concebo o verso assim metrificado
como arquiteto que planeja um edifício
na exatidão do prumo reto e equilibrado
sem perguntar se isto é fácil ou é difícil!

eu já concebo a rima assim – intercalada,
numa urdidura trabalhosa e singular –
puxando o fio de cada sílaba marcada
pelo tecido de uma métrica “sem par”!

eu já concebo o meu soneto alexandrino
(como a matriz de uma equação vetorial)
fazendo cálculo semântico e verbal,

com meu compasso atrapalhado de menino!
eu já concebo o meu poema ornamental
como operário que dá forma ao que é divino!


Inóspita Claridade
Gustavo Felicíssimo

Eu faço versos por viver na poesia
todo universo do real e do abstrato,
feito um menino que contempla a fantasia
enquanto bárbaros renegam seu retrato.

Eu faço versos porque vejo a claridade
do novo tempo que está prestes a nascer,
quando irmanados e distante a falsidade
a humanidade poderá se conhecer.

Verá sua face no sorriso da criança,
em cada gesto de modéstia ou de virtude:
no seu semblante verá toda plenitude.

Verá que a luz se faz presente e a esperança,
palavra viva, vem somar-se à liberdade,
reconduzida ao seu lugar, junto à verdade.

2 comentários:

Andreia Hernandes disse...

Ótimo trabalho, Gustavo.
Novas tentativas podem de fato resultar em boas experiências.

Andreia

Andreia Hernandes disse...

Ótimo trabalho, Gustavo.
Novas tentativas podem de fato resultar em boas experiências.

Andreia