segunda-feira, 19 de julho de 2010

Auto-retrato – Carlos Falck

Estou em mim e comigo,
tenho o que tenho e não sou
além do vento da tarde
o sentir que se tardou.

Vou ao sabor do que sinto
e sentimento é razão,
mas o que não me comove
é somente o coração.

Tenho o resto comovido
e por assim diferente
falo de mim sem ser eu
enquanto estou com a gente.

Mas ao sentir-me sozinho
volto ao que sou e que fui
enquanto a melancolia
calmamente se dilui.

Falck nasceu em Salvador no ano de 1936 e lá cometeu suicídio em 1964, com menos de 30 anos, portanto. Alguns dos seus poemas demonstram claramente essa disposição.

Mais sobre o autor: http://sopadepoesia.blogspot.com/2010/04/carlos-falck-eximio-e-sofrido-poeta.html

Um comentário:

Andreia Hernandes disse...

Puxa, adorei o poema do Carlos Falck!
Gostei da dúvida e da incerteza sobre os limites do ser alguém ou se ser a mesma pessoa sempre. Também é possível ver o sentimento de efemeridade da vida em "não sou além do vento da tarde"...

Belíssimo post!

Andreia