segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

As quatro formas de haikai praticadas no Brasil

Dedicaremos esta semana às formas haikaísticas praticadas no Brasil. O texto faz parte do prólogo de um ensaio nosso sobre o haikai na Bahia que em breve será publicado em sua íntegra.

As transformações havidas no Japão e no mundo ampliaram o horizonte do haikai, tornando sua estrutura adaptável. Como veremos, o haikai foi utilizado à maneira que melhor se adequou à necessidade de cada autor e lugar.
Todavia, teorizar demais sobre o haikai é ao mesmo tempo perdê-lo, sendo suficiente dizer que a ele devemos nos amalgamar, como se acompanhássemos naturalmente o fluir do tempo, o curso de um rio que se transforma em algo diverso quando encontra o mar. Assim também é o haikai quando buscamos capturar um instante, uma ação, e representá-la com palavras. Entretanto se faz necessário registrar as formas de haikai produzidas no Brasil ao longo do tempo, que são quatro no total.


I - O modelo trazido por Afrânio Peixoto

Para Carlos Verçosa
[1], autor de Oku: viajando com Bashô[2], coube a Afrânio Peixoto não apenas o mérito pioneiro de introduzir e divulgar o haikai no Brasil, em 1919, apresentando o haikai como “epigrama lírico”, em Trovas Brasileiras. Peixoto também teria sido o nosso primeiro poeta a publicar um livro de haikai.
Em Missangas
[3], no capítulo X[4], após o ensaio O haikai japonês ou epigrama lírico, Peixoto traz 52 haikais de sua autoria. Diz Verçosa que se trata de um autêntico livro inserido em um outro livro. Desse modo, o poeta baiano não só pode ser considerado o precursor do haikai no Brasil, como também o primeiro poeta a publicar um livro de haikai no nosso país. São 52 haikais com título e métrica (5/7/5 sílabas), como os que seguem:


COMO OS CÃES DA RUA

Na lata de lixo,
Coitadinho, procurava
Um naco de pão...


COMPARAÇÃO

Um aeroplano
Em busca de combustível...
Oh! é um mosquito.


A BELEZA ETERNA

O sabiá canta,
Sempre uma mesma canção:
O belo não cansa.

Referências:
[1] Escritor paranaense radicado na Bahia há mais de 30 anos.
[2] Secretaria de Cultura e turismo do Governo do Estado da Bahia, 1996. Uma das mais importantes obras sobre o haikai no Brasil.
[3] Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1931.
[4] Idem. p. 233 a 248.

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