quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Orides Fontela fez uma poesia enigmática, cortante, que prima pela concisão, pela economia de recursos e densidade. A ela bastava dizer apenas o suficiente, deter-se no que é essencial. Difere muito da poesia minimalista ou do haikai, por exemplo, mas não raro leio seus versos como se lesse um koan.

ELEGIA (I)

Mas para que serve o pássaro?
Nós o contemplamos inerte.
Nós o tocamos no mágico fulgor das penas.
De que serve o pássaro se
desnaturado o possuímos?

O que era vôo e eis
que é concreção letal e cor
paralisada, íris silente, nítido,
o que era infinito e eis
que é peso e forma, verbo fixado, lúdico

O que era pássaro e é
o objeto: jogo
de uma inocência que

o contempla e revive
— criança que tateia
no pássaro um
esquema de distâncias —

mas para que serve o pássaro?

O pássaro não serve. Arrítmicas
brandas asas repousam.


MÉDIA

Meia luz.
Meia palavra.
Meia vida.

Não basta?

Poemas do livro Transposição (1969)

3 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Tanto eu quanto João Filho já fizemos homenagem a Orides nos nossos blogs: compartilhamos a admiração.

Gustavo: mande um beijo para Noélia e para a barriga de Noélia, guardadora preciosa.

Pimentiinha x) disse...

Orides educa, é duca.

BAR DO BARDO disse...

Agora na identidade certa:

Orides educa!