domingo, 31 de janeiro de 2010

Sugestão de leitura

Recentemente o escritor ilheense Marcus Vinícius Rodrigues, com o conto A omoplata, venceu o disputadíssimo Prêmio Newton Sampaio, edição 2009, promovido pela Secretaria de Cultura do Estado do Paraná.
Detalhe: a comissão julgadora teve em seu corpo ninguém mais que Marina Colasanti e Miguel Sanches Neto.
Marcus, que já havia sido premiado em outros concursos literários, tem publicado os livros Pequeno inventário das ausências, 2001; e 3 vestidos e meu corpo nu, 2009.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Programa cultural inédito em Ilhéus

Algumas das melhores bandas da região e poetas acima de qualquer suspeita

clique na imagem para vê-la em tamanho maior

A Casa dos Artistas, com o apoio da Fundação Cultural de Ilhéus, está promovendo o Rock & Poesia, que se realizará em todas as quartas-feiras do mês de fevereiro.

Trata-se de uma atividade lítero musical, com a participação de quatro bandas e quatro poetas de Itabuna e Ilhéus. No palco da Casa dos Artistas, poetas e músicos dividirão o mesmo espaço, rompendo paradigmas aparentemente inconciliáveis. O Rock & Poesia ainda contará com a participação especial do artista plástico Cícero Matos pintando telas durante as apresentações e do fotógrafo português Pedro Montalvão.

Após as apresentações o público ainda poderá participar de um bate-papo com os artistas e do leilão das telas.

Quarta-feira: 03/02 – Gustavo Felicíssimo e OQuadro

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Morre J.D. Salinger

Breve comentário de Henrique Wagner

Morreu o maior escritor americano vivo... Iroôica, a frase... agora ele tá morto... J. D. Salinger, autor do famoso romance O apanhador dos campos de centeio. Para mim é o maior de todos os escritores americanos do século. Não tem Piliph Roth nem Saul Bellow... Adoro os contos e, claro, esse romance genial...
Se H.Wagner disse, está dito e eu acredito.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A arte do Epigrama

Bernardo Linhares

Quatro versos, qual esquadra
deslizando numa onda,
são os astros dessa quadra,
dessa quadra bem redonda.

Incisivo que não ladra,
sonda o riso, o riso sonda,
se a vergonha não se enquadra,
a vergonha que se esconda.

Se você come bagaço,
não entende da matéria,
epigrama é coisa séria,

não é coisa pra palhaço,
trabalhar uma pilhéria
é do cu fazer cabaço.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O amigo e poeta Jorge Elias Neto publicou em seu blog três poemas baseados no mito de Orfeu e Eurídice que escrevi faz algum tempo. Gosto muito deles. Para quem quiser conferir o endereço é o seguinte: http://jeliasneto.blogspot.com/2010/01/gustavo-felicissimo.html

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O 1º haikai escrito no Brasil

Consta que Shuhei Uetsuka compôs o seguinte haikai momentos antes da atracação no Porto de Santos[1]:

A nau imigrante
chegando: vê-se lá do alto
a cascata seca.
(Trad. por Massuda Goga)

[1] Segundo Shoichi Kodama (1950 apud GOGA, 1888, p. 33)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Lista de discussão sobre haikai na net

O mestre Paulo Franchetti está abrindo uma lista de discussão sobre haikai na internet. Trata-se de uma ótima oportunidade para aprendermos e aprimorarmos um pouco mais os nossos conhecimentos com aquele que é uma das maiores autoridades no assunto em nosso país.

Vejam abaixo um texto que nos foi enviado e, caso a idéia lhes agrade, sugiro a adesão. Posso dizer-lhes seguramente que caso não tivesse travado contato com os texto do Franchetti, seus livros, ensaios e haikais, meu entendimento sobre o assunto e sua história não seriam os mesmos.

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HAIKAI é um espaço dedicado ao estudo e à prática do haicai. O nome haicai recobre hoje um vasto território. Nesta lista, praticaremos o haicai entendido como uma espécie de exercício de linguagem, de modo de estar no mundo. Se você busca outros caminhos de haicai, ou julga que a tradição do haicai seja um peso ou não está interessado/a num exercício de alteridade
por meio da prática poética, então esta lista não é para você. Aqui, com variações de ênfase em um ou outro aspecto, o haicai será entendido como um texto breve, de três versos, centrado num dado sensório (frequentemente ligado à sucessão das estações do ano), que traz para primeiro plano uma percepção da efemeridade. Esse tipo de haicai o mais das vezes se divide em duas frases, que provocam uma contraposição entre o que é passageiro e o que
é duradouro, o que é humano e o que é cósmico, o que é pequeno e o que é grande, o que é pessoal e o que é comum a todos - e assim por diante.
Fazendo da modéstia e do despojamento valores centrais, o haicai, tal como o entendemos neste espaço compartilhado, é um poema que se limita voluntariamente a situar uma dada percepção sensória, objetiva, num campo maior de referências (objetivas ou subjetivas) onde ela ganhe sentido e componha um quadro único; um poema que traz para o leitor a presentificação de um instante como algo inacabado, aberto, um esboço ou um diagrama do
choque entre a sensação fugaz e irrepetível e seu longo ou profundo ecoar nas diversas cordas da sensibilidade e da memória. Se o haicai que você busca é o que foi acima descrito, seja bem-vindo!

Paulo Franchetti
Moderador

O link para assinatura e envio de mensagens são estes:

Assinar:
haikai-subscribe@yahoogroups.com

Enviar mensagem:
haikai@yahoogroups.com

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Cícero Matos volta a expor em Ilhéus

Nesta quarta-feira, 20 de janeiro, no Foyer do Teatro Municipal de Ilhéus, a partir das 19:30, o artista plástico Cícero Matos, após 20 anos, volta a expor sua obra em Ilhéus. Nesse espaço de tempo Matos correu o mundo em exposições individuais ou coletivas, passando por cidades como Salvador, onde apresentou suas telas em diversos espaços, entre eles a Galeria Pierre Verger, também em Jacobina, sua cidade natal, além de países europeus como Itália, Suíça e Espanha.
O artista plástico vem à cidade a convite do poeta Heitor Brasileiro Filho e com o apoio da Fundação Cultural de Ilhéus, trazendo a exposição Entre Cores, composta por 35 telas em Acrílico sobre tela. São obras de estética moderna, expressionista, muitas inspiradas em fatos do cotidiano, que estarão à disposição do público para aquisição.
Durante a exposição os visitantes poderão encontrar o artista em atividade, pintando telas ou camisas com motivos regionais.

Raymundo Luiz Lopes

Recebi há poucos dias o livro Velas de Arribação, do poeta baiano Raymundo Luiz Lopes. Trata-se de uma obra híbrida, trabalhada em versos livres e haikais, sempre em síntese, onde o poeta busca dizer não mais nem menos que o suficiente.

Alguns poemas do livro:

Calor de verão.
A bola de melancia
Passeia na horta

***

Da série Poemetos (poema nºVI)
Para Elieser César

Em cada alma
desliza
indomável barco.
A corda
não amarra
o sussurro
das âncoras.


Segredos

Tudo guardado
no cofre das reminiscências:
obliquas pontes
flores no cio
latitudes calosas.

Tudo o que já não é o mesmo
e visto pelas frestas
da noturna alma.


Breve notícia do autor:
Raymundo Luiz Lopes é natural de Salvador, mas vivem em Feira de Santana, a Princesa do Sertão, há bastante tempo, onde é Professor Titular do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e um dos fundadores da universidade. Criador e Editor da revista Sitientibus (www.uefs.br/sitientibus). Coordenador do Programa Interuniversitário para Distribuição do Livro (PIDL). Membro da Academia Feirense de Letras. Além de ter formação em Terapias Holísticas (massagens orientais, Reiki, Tai Chi chuan), Raymundo ainda é professor da Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI), desenvolvendo vivências na oficina - Tai Chi Chuan/Caminho para a Construção do Equilíbrio, desde 1992. Poeta, contista, ensaísta, com vários trabalhos publicados em jornais, revistas e pela internet. Participou da Antologia Poética/Pacto de gerações.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

brilho distante –
o céu se aproxima
do navegante


Haikai de Heitor Brasileiro
Fotografia de Pedro Montalvão

domingo, 17 de janeiro de 2010


Minha velha aldeia
Sob as folhas vermelhas caídas
Aos poucos vai desaparecendo:
Nas samambaias do beiral
Como sopra o vento de outono!

Minamoto no Toshiyori (1055 – 1129)
Em Haikai, Editora da Unicamp, de Paulo Franchetti, Elza Taeko Doi e Luiz Dantas

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sugestão de leitura

Convido os leitores a conhecerem recente entrevista sobre haikai que concedi ao poeta Rafael Noris, no seguinte endereço: http://hai-kais.blogspot.com/2010/01/panorama-do-haicai-nacional-gustavo.html
Declinando leve
o barco espera sóbrio
a maré que sobe...
A fotografia é de Pedro Montalvão e o haikai de Piligra

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Drummond e Paulo Diniz

Estava vindo ao trabalho, cd de Paulo Diniz tocando, até que entra a faixa cinco, o poema José, de Drummond, numa interpretação formidável. Sei que todos conhecem tanto o poema quanto a canção. Nenhuma novidade, portanto. Entretanto, a canção me deixou nostálgico pra dedel. Pois bem. Creio que vale muito, parar três minutinhos para ouvir o poema, ler a canção. Evohé!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Frente às nuvens,
dois pássaros selvagens,
olham-se uma última vez.

Dizem-se adeus.


Pedro Montalvão
Fotógrafo português e projeto de poeta
Está radicado em Ilhéus

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Orkut: uma crônica sobre a vida moderna

Por André Rosa

Descasei pela terceira vez. Soube-se pela internet. Um amigo em comum sentenciou: “olha, no Orkut dela consta a mudança de relacionamento”. Solteira dizia lá. Me senti anacronicamente desinformado sobre a minha própria vida, midiaticamente escancarada na rede. Um ultrapassado filho de outro milênio em meio às modernidades. Constrangido pela notícia inesperada, olhei alternadamente para os amigos cabisbaixos em volta da mesa de bar e aliança de ouro barato que ainda usava na mão esquerda. Disfarcei o mal-estar trazido pela contemporaneidade. De certa forma, refleti, havia talvez inaugurado uma nova forma de separação entre casais: simples, direta, asséptica, pública e irremediável. Entre tapinhas nas costas e frases feitas a rapaziada se mostrou solidária e a noite terminou como sempre: garrafas vazias, “valeu aí, depois se vê” e a certeza das ressacas: a etílica e a moral.
Logo encontraria a dona do fatídico Orkut. Reunião com pauta surreal, tratando de sonhos infalíveis. Cheguei mais cedo disfarçando a ansiedade que antecede as nossas próprias tempestades. Me recebe como sempre outro amigo, sócio de noites e casas abertas: “e aí brouzer?” Dessa maneira denominava os mais chegados. Pergunto por todos e inicio a retirada dos meus pertences que ainda teimavam no lugar. Olhando os objetos comentei um pouco melancólico: “fica apenas o inevitável”. Eram de uma exposição falando de sons e linguagens: um rádio cinqüentão, capas velhas de vinis, alguns instrumentos musicais há muito em desuso e uma radiola quebrada de data imprecisa. A sensação era o de ser o mais velho da coleção.
O amigo, solícito senhor das brejas, imperava no balcão do barzinho no andar térreo. Ali discutia-se muito de tudo. Cabeças rolavam e abriam-se. Ouvido atento ele anunciou: “chegaram os outros sonhadores”. Bebida quente, noite fria e ela com um chalé colorido sobre os ombros. O vestido e a sandália eram brancos. Aberta a pauta, os sonhos desfilaram na boca de quase todos. Mais uma vez estaríamos em campos opostos. Eu, em meu papel tão clichê de sustentar a racionalidade. Ela, ameaçando rasgar os papéis em que diligentemente anotava o futuro, me mandou embora. Agora dispensaria a benção eletrônica dos computadores. Os demais sonhadores olharam-se mudos, pareciam aprovar a decisão. Me dirigi ao balcão onde o senhor das brejas atendia um desavisado: “aí man, dessa vez o para sempre é chegado”. Era janeiro de 2010 e acabava-se um roteiro desproporcional mesclado de afetos e raivas, de abortos e orgasmos. Caminhei rápido para a saída sem olhar os outros sonhadores e a dona do Orkut. Ainda ouvi alguém se despedir, não reconheci a voz, pareceu-me distante, absurdamente distante.
A noite ameaçava desabar dentro de mim.

André Rosa
é historiador e professor universitário. tem mestrado e doutorado pela UFBA

domingo, 10 de janeiro de 2010

Sugestão de leitura:

Com periodicidade mensal, 40 páginas, circulando sempre no último domingo do mês, sob a edição do poeta Antônio Mariano, o Correio das Artes, a mais antiga publicação do gênero em circulação no país, tem formato de revista e é um suplemento cultural do jornal paraibano A União, produto do governo do estado da Paraíba.
A edição eletrônica pode ser acessada em PDF mantendo o formato original da edição impressa para ler, baixar ou imprimir:
http://www.auniao.pb.gov.br/v2/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=58&Itemid=67

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Café com blues em Ilhéus

Neste sábado, 09 de janeiro, tem Café com Blues no Tetatro Municipal de Ilhéus. Programaço. A banda trás em seu show uma mistura de música nordestina em especial da Caatinga da Bahia, mesclando modas de viola, chulas, reisados, e outros ritmos com o Blues. O trabalho musical extremamente diferenciado que vem ganhando espaço em todo o Brasil, pela primeira será apresentado em Ilhéus, no palco do Teatro Municipal, no dia 09 de Janeiro (Sábado), às 21:00h.
A Banda oriunda da ‘Cidade do Café’, Vitória da Conquista-Ba, é composta pelos músicos Diro Oliveira (vocal, flautas e gaitas), Júlio Caldas (vocal, guitarras e violas), Thomaz Oliveira (Bateria e vocal), Lúcio Ferraz (guitarras e violões), Luciano PP (Baixo) e Horton Macedo (sax e flautas).

O show “O mar vai virar sertão” foi contemplado por edital de circulação de Música da FUNCEB em 2009 e trás músicas de autoria da própria banda.

Serviço:

O quê? Show da Banda ‘Café com Blues’
Quando? 09 de Janeiro (sábado), 21h
Onde? Teatro Municipal de Ilhéus
Entrada? R$ 20,00 (Inteira) R$ 10,00 (MEIA)
Telefone do TMI: (73) 3231.7264
Site da banda: http://www.cafecomblues.com.br/

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Orides Fontela fez uma poesia enigmática, cortante, que prima pela concisão, pela economia de recursos e densidade. A ela bastava dizer apenas o suficiente, deter-se no que é essencial. Difere muito da poesia minimalista ou do haikai, por exemplo, mas não raro leio seus versos como se lesse um koan.

ELEGIA (I)

Mas para que serve o pássaro?
Nós o contemplamos inerte.
Nós o tocamos no mágico fulgor das penas.
De que serve o pássaro se
desnaturado o possuímos?

O que era vôo e eis
que é concreção letal e cor
paralisada, íris silente, nítido,
o que era infinito e eis
que é peso e forma, verbo fixado, lúdico

O que era pássaro e é
o objeto: jogo
de uma inocência que

o contempla e revive
— criança que tateia
no pássaro um
esquema de distâncias —

mas para que serve o pássaro?

O pássaro não serve. Arrítmicas
brandas asas repousam.


MÉDIA

Meia luz.
Meia palavra.
Meia vida.

Não basta?

Poemas do livro Transposição (1969)

Primeiros haikais do ano


outra vez florida
a minha enorme alegria –
pomar de cajueiros

***

não importa o sol
tampouco o azul do céu –
mas sentir a vida

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

1° de janeiro

Jorge Elias Neto

Após o pão e circo,
sigo em busca da ciência de desinventar.

No vazio do salão amanhecido
ainda ressoam os ecos dos champanhes,
os alaridos esperançosos,
os sussurros de cumplicidade.

De sólido,
ficaram os confetes e serpentinas,
que nada entendem da solidão.


Em: Rascunhos do absurdo (lançamento em breve)

Confira também:
breve texto, entrevista e micro seleção de poemas do Jorge Elias Neto: http://sopadepoesia.blogspot.com/2009/07/poesia-transcendental-de-jorge-elias.html

sábado, 2 de janeiro de 2010

Um poema de Jesse Waters

A tradução é do mestre Ildásio Tavares

Uma maçã de Dachau

Décimo oitavo dia de Nissan,
Primeiro mês do ano judeu, 21 de abril
Terceiro dia de Páscoa. Estou numa rua de trás,
[calçada de pedras.

“Liebling” uma vendedora de maçãs me diz
Mas não falo alemão. Ela sorri e balança a cabeça
Ao ver moedas de euro na palma da minha mão.

É uma bela maçã. Brilhando para mim
No meio da minha mão. E ainda
Não tenho a menor idéia de como ser sagrado.

Qualquer fruta, mesmo apenas o miolo
Ou somente descascada é santa
[quando você está solitário.

Ao crepúsculo, com uma xícara de chá
[pingado com rum, eu espreito
Por minha janela o lugar onde os vendedores
[ficam fora dos carrinhos
Até que a luz morre. comendo salmão branco,
Que vem num invólucro encerado, e meia laranja.

Algo tão belo tanto quanto desistir da semente
É solitário e descascar a fruta com fome é santo.
Se você planta uma semente de maçã num

[campo longe da cidade
Onde a neve nunca permanece, mesmo no inverno
E aquela semente vive, isto é uma coisa sagrada.

Não feito o peixe Gelfite. Agora mesmo
treze horas do leste, minha mãe
está no Brooklin, comprando duas libras
de salmão branco, carpa e agulhão.
É possível que o peixeiro
A conheça. A gente nunca acha espinhas no peixe,
É por isso que meus parentes sempre passam
A Páscoa na casa dos meus pais.
Fique com a pele, minha mãe dirá ao peixeiro
Mas ela fica com a cabeça, a semente

[e o miolo. A primeira
Primavera em que me lembro do cheiro

[daquelas espinhas
Frescas de peixe, eu tinha cinco anos.

[Era o cheiro de sal
E de carne da minha fome jovem. Minha mãe moerá
O peixe junto com água efervescente, noz moscada,
Vinho branco e cubos cuidadosos de aipo,
Enquanto pensa em algo sagrado.

Qualquer coisa como abrir mão da fome
Pela santidade, pelo sagrado coração da criança
Ainda não é bastante, não me mostrará como é amar.
[Não há nada
Comestível neste poema. Nada santo.
Somente uma maçã, com gosto de maçã, com cheiro
De maçã. Que mais poderia uma
Maçã significar aqui, em qualquer outro lugar santo
[é a mesma fruta doce. –
Mas nesta rua de pedra
Em Dachau onde minha avó
Conta-se que foi espancada até morrer
E ninguém disse Kaddish até minutos atrás,

[eu comeria
Seis milhões de maçãs perfeitas feito a que tenho
[na palma da mão sem senti-la cheia.
Eu abraçaria centenas de alemães, coreanos,
[católicos, taoistas, mulheres
E homens reais que amam ou odeiam, faria qualquer
[coisa para me livrar do antigo boxeador
[de sombra em mim que arrota nação
Em cada jab e largo gancho – semente
Que nunca comheceu um inimigo
Além de sua própria e escura imaginação

Não posso começar minha vida de novo. Os marcos
Que conheço estão todos nos poemas,
[não no coração do povo.
Não há marcos claros neste poema.
Quando vôo de volta para Troy, sobre o Atlântico,
Nova Iorque – casa – sua mó de máquinas de pedra
E fábricas de biscoito ardiam como números,
Para o quê minha própria juventude não tinha tempo
[ – dentro do ventre
Americano da abundância acima de nosso

[mundo sagrado.
Comerei desta maçã. A dividirei com minha mãe

[e irmãs junto a um halvah e quindins

Itapuã. 31
VII. 2009


An Apple from Dachau

It's the eighteenth day of Nissan,
the first month of the Jewish year, April 21st –
Passover's third day. I’m on a backways
[cobblestone street.

"Liebling" a woman selling apples says to me
but I don't speak German. She smiles, and nods
to the euro coins in my palm.

It's one fine apple, shining up at me
from the center of my hand. And still
I have no idea how to be sacred.

Any fruit, even just the core
or shed skin, is holy when you’re lonely.

At dusk, with a cup of rum-laced tea, I watch
out my window to where the vendors stay
[out at their carts
until the light goes dead, eating whitefish
from wax paper, and one half of an orange.

Something so beautiful as to give up seed
is lonely, and to shed its skin for hunger is holy.
If you plant an apple seed in the far town field
where snow never stays, even in winter,
and that seed lives, it’s a holy, holy thing.

Not like Gefilte fish. Right now
thirteen hours east, my mother
is in Brooklyn buying two pounds
of Whitefish, Carp and Pike flesh,
chances are the fishmonger
knows her: You'll never find bones,
it's why my relatives always have
Passover at my parent's house.
Keep the shed skin, my mother will
[tell the Fishmonger
but she's keeping the head, seed and core. The first
spring I remember smelling those fresh
fish bones, I was five. It was the salt smell
fleshwork of my young hunger. My mother will grind
the fish together with seltzer water, nutmeg,
white wine and finely diced celery ribs
while thinking about something sacred.

Anything so beautiful as to give up its hunger
for holiness, and shed its skin for the sacred childheart
is still not enough, won’t show me how to love.
[And there's nothing
edible in this poem. Nothing holy.
Only an apple, which tastes like apple, smells
like an apple. What else can an
apple mean here, in any other holy place it's
[the same, sweet fruit –
but on this cobblestone street
in Dachau where my grandmother
is said to have been beaten to death
and no one said Kaddish until a few minutes ago,
[I would eat
six million perfect apples as the one here in
[my palm and never feel full.
I’d embrace hundreds of loving and hating
Germans, Koreans, Catholics, Laotians, real women
and men, anything to let go of the ancient shadowboxer
in me who snorts nation
with each jab and wide hook – the one
seed who's never known an enemy
besides his own, dark imagination.

I can't start my life over. The landmarks
I know are all in poems, not in people's hearts.
There are no clear landmarks in this poem.
When I cross back over the Atlantic to Troy,
New York – home -- her milling ball quarry machines
and cookie factories burned like figures
my own youth had no time for – inside the American
womb of plenty up above our sacred, holy world
I'll eat this apple, I'll split it with my mother and
[sisters over halvah, macaroons.

Nota:
Recentemente o poeta estadunidense Jesse Waters passou um mês em Salvador, na UFBA, participando de um programa de intercâmbio através da Partners of Américas Organização.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

3º Poema da Infância

Eu sempre preferi raspar panelas
e roubar mangas nos quintais vizinhos,
sempre joguei pedras em passarinhos
e quebrei vidros de muitas janelas.
Nos telhados, velhas telhas partidas,
subindo e descendo atrás de uma pipa,
e atrás da bola moleque Chulipa,
cantando as peladas sempre vencidas.
E qual peixinho eu nadava no rio,
eu brincava até debaixo do frio.
Lá, naquele tempo, tudo era lúdico.
Minha vida era um doce de bananas,
doce de leite e duelos com as manas,
com as vizinhas brincava de médico.