quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Delmira Agustini, a voz feminina do Uruguai

Delmira Agustini (24.10.1886 – 06.07. 1914), nasceu em Montevidéu. Filha de Italianos imigrantes, Agustini foi uma criança precoce. Consta em sua biografia que além de começar a escrever poemas quando ainda tinha 10 anos, estudou francês, música e pintura. Apesar de ter falecido muito cedo, assassinada sobre sua própria cama, com apenas 28 anos, ainda é considerada como uma das maiores poetas latino-americanos do sexo feminino. Faz parte da geração de 1900, juntamente com Julio Herrera y Reissig, Leopoldo Lugones e o grande Rubén Darío, a quem ela considerava seu professor. Naquele período, Darío, referindo-se à Agustini, afirma ter sido ela a única escritora mulher, desde Santa Teresa D’avila, a expressar-se como uma mulher, o que era mesmo um grande diferencial devido toda uma conjuntura machista existente.
Ela se especializou no tema da sexualidade feminina em uma época em que o mundo literário era dominado pelos homens. Seu estilo de escrita é considerado o melhor da primeira fase modernita, com temas baseados em fantasia e exotismos.
Eros, deus do amor, simboliza o erotismo e é a inspiração para os poemas Agustinianos sobre prazeres carnais. Ele é o protagonista de muitas das suas obras literárias. Seu terceiro livro, “Los Calices Vacíos” (Cálices vazios), em 1913, foi aclamado como a sua entrada para um novo movimento literário, "La Vanguardia" (A Vanguarda).
Agustini tinha olhos azuis, pele clara e uma figura esguia. Alguns amigos testemunharam que ela parecia um anjo inocente.
O amor incondicional e arrogante levou-a a temas de submissão e de charme, assim como imagens eróticas altamente espiritualizadas.

Delmira Agustini publicou as seguintes obras: El Libro Blanco (1907), Cantos de la Mañana (1910), Los Cálices Vacíos (1913), El Rosario de Eros (1913), Los Astros del Abismo (1924). No Brasil tem publicado “Líricas”, edição bilíngüe, Desterro, SC, Edições Nephelibata, 2005. Tradução de Gleiton Lentz


O INTRUSO
Traduzido por Anderson Braga Horta

Amor, naquela noite trágica e soluçante
Cantou tua chave de ouro em minha fechadura;
E logo, a porta aberta sobre a sombra arrepiante,
Te vi como uma mancha de luz e de brancura.

Tudo me iluminaram teus olhos de diamante;
Beberam-me na taça teus lábios de frescura,
Na almofada pousaste-me a cabeça fragrante;
Amei-te o atrevimento e adorei-te a loucura.

E hoje rio se ris e canto se tu cantas;
Se dormes, durmo como um cão a tuas plantas!
Na própria sombra levo a tua recendente

Primavera; e, se a mão tocas na fechadura,
Tremo e bendigo a noite que -soluçante e escura-
Floriu na minha vida tua boca amanhecente.


EL INTRUSO

Amor, la noche estaba trágica y sollozante
Cuando tu llave de oro cantó en mi cerradura;
Luego, la puerta abierta sobre la sombra helante,
Tu forma fue una mancha de luz y de blancura.

Todo aquí lo alumbraron tus ojos de diamante;
Bebieron en mi copa tus labios de frescura,
Y descansó en mi almohada tu cabeza fragante;
Me encantó tu descaro y adoré tu locura.

Y hoy río si tú ríes y canto si tú cantas;
Y si tú duermes duermo como un perro a tus plantas!
Hoy llevo hasta en mi sombra tu olor de primavera.

Y tiemblo si tu mano toca la cerradura,
Y bendigo la noche sollozante y oscura
Que floreció en mi vida tu boca tempranera!


O INEFÁVEL
Tradução de Henriqueta Lisboa

Morro de estranho mal. Não, não me mata a vida
a morte não me mata e nem me mata o amor.
Morro de um pensamento mudo como ferida.
Não sentiste jamais aquela estranha dor

de um pensamento imenso enraizado à vida
devorando alma e carne e não alcança a dar flor?
Nunca levastes dentro uma estrela dormida
por inteiro a abrasar-vos sem nenhum fulgor?

Cúmulo dos martírios! Levar eternamente
desgarradora e seca a trágica semente
como um dente feroz que as entranhas corroeu.

Mas arrancá-la em flor que amanhecera um dia
milagrosa e ideal — ah! maior não seria
do que ter entre as mãos a cabeça de Deus.

O INEFABLE

Yo muero extrañamente... No me mata la Vida,
no me mata la Muerte, no me mata el Amor;
muero de un pensamiento mudo como una herida,
¿No hábeis sentido nunca el extraño dolor

de un pensamiento inmenso que se arraiga en la vida,
devorando alma y carne, y no alcanza a dar flor?
¿Nunca llevasteis dentro una estrella dornida
que os abrasaba enteros y no daba un fulgor?

İCumbre de los Martirios! ... İLlevar eternamente,
desgarradora y árida, la trágica simiente
clavada en las entrãna como un diente feroz!

Pero arrancarla un día en una flor que abriera
milagrosa, inviolable... İAh, más grande no fuera
tener entre las manos la cabeza de Dios!

Ligação externa:
http://www.patriagrande.net/uruguay/delmira.agustini/index.html

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